As primeiras declarações eram desencontradas. O presidente Lula prometia não rever o acordo de Itaipu, a megausina de energia que o Brasil bancou sozinho, investindo bilhões de dólares, e que hoje tem de submeter a sua receita a uma divisão com o Paraguai, devido à localização geográfica do complexo. O embaixador Celso Amorim falava que, ao contrário, havia sim uma possibilidade de revisão. O presidente paraguaio, Fernando Lugo (foto), acaba de ser eleito levado pela bandeira da tal revisão do tratado de Itaipu. Quer mais dinheiro, cobrando um pedágio maior dos brasileiros. Itaipu já é a principal fonte de receita paraguaia. Deve render ainda mais, porque as autoridades daqui caminham na direção de atender ao pedido. Diplomatas brasileiros tendem a ser generosos com parceiros vizinhos, com o objetivo – nas palavras de Amorim – de manter o continente como uma “região pacífica”. O problema é que a conta dessa diplomacia pode sobrar para o consumidor de cá, com o aumento do preço da tarifa de luz. É a velha fórmula de fazer política caridosa com o dinheiro alheio. No caso, dos contribuintes. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, diz que não, que o preço de Itaipu vai ser mantido. O Paraguai consome apenas 5% da produção e o tratado proíbe a venda de energia a terceiros. Assim, a sobra de lá é comercializada para o Brasil. É sobre esse naco que os paraguaios querem meter um, digamos, “sobrepreço”. As transferências financeiras de Itaipu Binacional em favor do Paraguai já totalizam cerca de US$ 550 milhões por ano. Lugo acha pouco. Quando fazia campanha, colocou em sua plataforma a proposta de elevar esse valor para US$ 1,8 bilhão. Isso porque, pelos seus cálculos, numa venda direta a outros países consumidores – o que não é permitido –, conseguiria angariar muito mais. Os paraguaios viram na idéia a chance de revitalizar o país. Muitos deles culpam o Brasil pelo baixo desenvolvimento do lado de lá. É uma acusação que não cabe. A ameaça que paira sobre a negociação bilateral é a de o presidente Lugo, a exemplo do que fez recentemente o boliviano Evo Morales, achar-se no direito de desapropriar a usina. Por enquanto, ele diz que irá respeitar a propriedade. Mas até onde ele vai manter a palavra diante de uma crescente pressão interna?