Por que os cidadãos que usam o transporte público são tratados como lixo nas grandes cidades brasileiras? Em grande medida, porque as empresas de ônibus, geradoras naturais de dinheiro em espécie e de caixa 2, estão entre as principais doadoras de campanha de prefeitos e vereadores. Como a política impõe um custo adicional ao transporte, o serviço público é péssimo. E não melhora porque, nesse círculo vicioso, os políticos se tornam reféns dos empresários.

Pergunta número dois: por que os estádios de futebol, no Brasil, são muito mais caros do que em outros países? Porque as empreiteiras são as principais doadoras de campanha de governadores e presidentes. E o custo que a política impõe à engenharia se converte em sobrepreço e corrupção endêmica.

Há, portanto, uma lógica que une os protestos que tomaram o País e a resposta dada pelo governo Dilma. Aos manifestantes que foram às ruas contra os aumentos de ônibus, logo se juntaram aqueles que protestavam contra os gastos da Copa do Mundo de 2014. Nos dois casos, havia gritos difusos contra a corrupção e a inversão de prioridades por parte dos governos, como se o Brasil fosse governado para empreiteiros e doadores de campanha – e não para o povo.

Essa percepção motivou uma reação do governo Dilma que vai à raiz do problema. Enquanto o Brasil não estiver disposto a discutir, a fundo, uma reforma política que reduza a influência do capital privado na agenda pública, todo o resto será acessório. Pode-se transformar a corrupção em crime hediondo, como no projeto aprovado pelo Senado na semana passada, mas ela continuará existindo se os políticos dependerem de acertos com empresários para continuar no poder.

Se o plebiscito proposto pelo governo vier mesmo a ocorrer, uma das questões centrais será o financiamento público de campanha – uma medida necessária, mas não suficiente para mitigar a corrupção.

É também urgente reduzir o custo da atividade política. Contribuiriam para isso, por exemplo, medidas como o voto distrital, reduzindo o raio populacional das campanhas. O voto em lista fechada também fortaleceria os partidos políticos, fechando o espaço para aventureiros.
O grito das ruas abriu a oportunidade para uma verdadeira transformação na política. Cabe à sociedade aproveitá-la.