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O Papa peregrino. Assim João Paulo II ficou conhecido durante o seu pontificado. Nos 27 anos em que esteve no trono de Pedro, entre 1978 e 2005, o polonês Karol Wojtyla esteve em mais de mil cidades. Alçado ao posto de beato em 2011 apenas seis anos após sua morte, ele caminha a passos largos para se tornar santo. Sua canonização deverá ocorrer ainda este ano, agora que um segundo milagre foi atribuído a ele. Ainda muito presente na memória dos fieis graças à enorme capacidade de comunicação que exerceu durante seu pontificado, e por ter falecido relativamente há pouco tempo, o nome de João Paulo II é impulsionado, também, por meio da devoção popular em torno das andanças de suas relíquias — restos mortais e objetos pessoais considerados sagrados pelos devotos cristãos.

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NO ALTAR
As vestes do papa polonês expostas na
Catedral Metropolitana da Cidade do México

Seu ex-secretário particular, o cardeal Stanislaw Dziwisz, arcebispo em Cracóvia, na Polônia, é um dos responsáveis por essa devoção em torno do papa polonês. De Wojtyla, foi retirado uma boa quantidade de sangue durante a cirurgia a que ele foi submetido após o atentado em 1981 (leia quadro). No ano passado, o Dziwisz aceitou o pedido de um padre de Curitiba, no Paraná, que solicitou amostras do sangue do beato para dar início a uma peregrinação dessa relíquia por paróquias polonesas e nas comunidades onde vivem descendentes dos imigrantes poloneses no País. “Depois de mandar uma carta a Dziwisz, fui lá em Cracóvia para me encontrar com ele e trouxe gotas do sangue do beato e uma pequena fração do tecido de sua batina”, afirma Zdzilaw Malczewski, da paróquia São João Batista do Tingui, localizada na capital paranaense. Desde então, o sangue do ex-pontífice, que fica dentro de um relicário, já esteve em quatro estados brasileiros. Em agosto, o material estará em dois municípios do Espírito Santo. Uma outra ampola com o sangue de Wojtyla, conservada num livro prateado, irá desembarcar no Brasil em julho e estará disponível para veneração durante a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro. Toda essa movimentação em torno dos relicários pode representar um impulso ao processo de santificação do polonês. “Uma relíquia que fez parte do corpo de um beato desperta a devoção no fiel, que vai até ela e, no momento de dificuldade, reza e pede uma intercessão aquele religioso”, afirma o padre Cesar Augusto dos Santos, que trabalha no Vaticano e foi vice-postulador da causa de canonização de José de Anchieta. Na Itália, a veneração às relíquias tem capítulos marcantes, como um ocorrido na Lombardia. Lá, uma ampola de sangue de João Paulo II foi transportada de bicicleta por um cego entre algumas paróquias.

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Em outra região, na Sicília, uma mecha de cabelo cortada do santo padre poucos dias antes de sua morte provocou, no início do mês, uma “explosão de entusiasmo”, como definiu o jornal italiano “Il Fatto Quotidiano”. Coube ao padre polonês Jarek Cielecki, espécie de glorificador da causa de João Paulo II, a missão de levar a relíquia para lá. Essas e outras preciosidades têm circulado tanto que já pararam em mãos de criminosos. Em agosto passado, o padre Augusto Baldini se distraiu quando viajava de trem de Roma para Allumiere e teve sua mochila roubada. Dentro dela, o religioso transportava um relicário com um frasco de sangue de Wojtyla que seria exposto no destino final da viagem. A polícia ferroviária, depois de encontrar o material, registrou no boletim de ocorrência que ele havia sido encontrado, pouco tempo depois, em um pântano próximo a uma estação de trem. “Passei cinco horas de agonia”, diz Baldini. Enquanto o estoque do cardeal Dziwisz durar, as relíquias de João Paulo II seguirão viajando. “O papa fez muitas peregrinações durante a vida e também as está realizando depois da morte”, diz ele.

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Fotos: LUIS RAMON BARRON TINAJERO/Dem/Demotix/Corbis; ALBERTO PIZZOLI/AFP Photo; El Universal/ZUMAPRESS; Elmer Martinez/AFP Photo