O baiano Nélson de Jesus Silva, o Dida, 25 anos, era considerado até pouco tempo atrás o melhor goleiro brasileiro. Candidato natural à posição de titular na Seleção, era um ídolo para a torcida do Cruzeiro, time que ajudou a conquistar dez títulos nos últimos cinco anos. Por suas defesas milagrosas, ganhou o apelido de "Muralha Azul". Hoje, porém, Dida vive um drama. Não joga desde o final do ano passado nem sabe quando voltará aos gramados. Está emprestado desde fevereiro ao Lugano, na Suíça, mas sem jogar. Tudo isso por causa de uma pendência judicial com o time mineiro que está interrompendo até aqui a sua bem-sucedida carreira.

Os quase seis meses de ostracismo já lhe trouxeram prejuízos consideráveis. Dida afirma estar sem receber um tostão desde então e deve ficar de fora das próximas convocações do técnico da Seleção Brasileira, Wanderley Luxemburgo. O pontapé inicial do problema foi uma proposta feita pelo Milan, da Itália, no início do ano, quando vencia seu contrato com o Cruzeiro. O time mineiro estipulou o passe em US$ 4,5 milhões, um valor estratosférico para um goleiro. Dida entrou na Justiça do Trabalho pedindo passe livre. Em fevereiro viajou para Milão e a equipe italiana o emprestou para o Lugano, enquanto sua situação não se definia.

Em mais um lance dessa confusão, o goleiro desembarcou na capital mineira na segunda-feira 10 para participar de uma audiência de conciliação. O Cruzeiro baixou o preço para R$ 3 milhões. Não houve acordo e, dois dias depois, o pedido do atleta foi julgado improcedente. O juiz João Borges chegou a afirmar que Dida não estaria gozando de suas faculdades mentais. Pesou na sua decisão o fato de o goleiro ter feito um acordo com o Milan antes de resolver sua situação com o Cruzeiro. Na próxima semana, os advogados de Dida entrarão com um pedido de habeas-corpus para o goleiro poder jogar em outro clube. Dida, que ficou apenas algumas horas na capital mineira, partiu novamente para o exílio suíço. "O que mais dói é ficar longe da família", desabafou a ISTOÉ.

O atleta despertou a raiva dos cruzeirenses mais fanáticos. "Dida é um mercenário, um infeliz. Ele está colhendo o que plantou", afirma Éder Toscanini, diretor da Máfia Azul, torcida organizada do Cruzeiro. Mesmo sob ameaças, Dida pretende voltar a Belo Horizonte na próxima semana. A reconciliação entre o goleiro e Zezé Perrela, presidente do Cruzeiro, parece inviável. "Ele está se fazendo de vítima, falando que é escravo do clube. Coitadinho, um escravo que anda de carro importado", ironiza Perrela. Para Dida, a maior esperança é que algum clube resolva comprar seu passe e pague os R$ 3 milhões que o Cruzeiro exige, já que o Milan parece ter perdido o interesse no atleta. Apesar dos arranhões na imagem, a Muralha ainda pode trazer muita alegria ao futebol brasileiro.