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PARADOXO “O conservador e o comunista tinham a mesma, e equivocada, visão do País”

A arraigada ideia de que o binômio latifúndio e escravidão definiu por séculos a organização econômica e social do período colonial brasileiro, sacramentada como a explicação para o “atraso” no posterior desenvolvimento do País, é rebatida em “História do Brasil com Empreendedores” (Mameluco), novo livro do sociólogo Jorge Caldeira. Autor de “Mauá, Empresário do Império” e “O Banqueiro do Sertão”, biografias que traçam um panorama da formação socioeconômica do País, Caldeira defende nesse novo estudo a seguinte tese: em três séculos de colonialismo a economia brasileira foi dinâmica, teve mobilidade social e, com seus empreendedores independentes, acumulou em 1800 mais riquezas do que a metrópole portuguesa.

“Há um grande descompasso entre estudos existentes hoje e a história que se conta. Esse antigo cenário não é compatível com a realidade”, diz ele. O livro propõe uma discussão revisionista a partir dos escritos de dois intelectuais influentes no início do século XX: o conservador Oliveira Vianna e o comunista Caio Prado Jr. Embora tivessem convicções políticas opostas, eles compartilharam a mesma opinião no que diz respeito ao Brasil Colônia: um país movido pela relação entre senhores de terra e escravos. Para contestar essa teoria, Caldeira ampara-se em pesquisas recentes que descrevem uma realidade diferente da que se conhecia.

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Revela que em 1590 os comerciantes de escravos brasileiros controlavam os negócios de metade do continente africano – juntos, eles detinham renda maior que a dos latifundiários. Além disso, cálculos mostram que no início do século XIX o mercado interno da colônia representava 84% da economia (só para efeito de comparação, em 2008 esse índice foi de 86,7%). Dentre os poucos registros escritos que ilustram o impacto da expansão comercial na vida da colônia está o soneto “Triste Bahia”, de Gregório de Matos (1636-1695), musicado por Caetano Veloso: “A ti trocou-te a máquina mercante/que em tua larga barra tem entrado./A mim foi-me trocando e tem trocado/tanto negócio e tanto negociante.”