O fragmento de um meteorito emoldurado por ouro fosco, pendurado num fio que imita um cabo de aço. A descrição é de uma peça da designer paulistana Miriam Mamber, uma das joalheiras-artistas que estão inovando o conceito de jóia no Brasil. É dela também o colar de ouro e água-marinha que a rainha Margrethe II da Dinamarca levou na bagagem, depois da visita a São Paulo, na semana passada. O estilo jóia de autor vem conquistando consumidores de alto poder aquisitivo e chegou até as joalherias tradicionais como a H. Stern, que hoje tem coleções personalizadas, como a da empresária Costanza Pascollato e a do decorador Sig Bergamim. Débora Sauer, da Amsterdam Sauer, optou por uma coleção levemente rústica, com ouro macetado mesclado a pedras semipreciosas. "A exemplo de Cartier e Van Cliff, essas jóias valem menos pelos quilates e mais pela autoria", compara Cecilia Rodrigues, outra artesã.

As jóias modernas são despojadas e resultam de um mix de inspirações: temas esotéricos, simplicidade de formas e de materiais e ainda traços étnicos orientais e africanos. Alçada à categoria de arte, a safra atual também se exibe em galerias. É o caso da mostra Adornos, da Galpão Design, em São Paulo, que reúne trabalhos de Elisa Stecca, Francisca Botelho e Miriam Mamber. "A idéia é exibir o estilo das várias tribos urbanas", explica a arquiteta Silvia Prado Segall Tranchesi, curadora da mostra. Os trabalhos são variados: Elisa mescla conchas do mar, prata e pedras. Miriam pesquisou tribos africanas. Francisca utiliza materiais pesados com lapidação suave.

No trabalho de cada joalheiro-artista encontram-se ainda referências regionais. A paulistana Betty Loeb importou da cidade de Petra, na Jordânia, uma coleção de pedras com inscrições em árabe e islâmico. Um especialista traduziu as inscrições, a maioria retirada do Alcorão, livro sagrado muçulmano. As pedras viraram anéis montados em ouro. "Gosto da idéia de usar uma jóia que carrega um pedacinho da história", avalia a executiva Maria Helena Lodi, que comprou um dos anéis. "E, como não são ostensivos, posso usar em qualquer situação." A natureza e a arquitetura de Brasília são a maior inspiração da brasiliense Carla Amorim. Ela esculpe ouro, imitando rachaduras da terra seca. Também adepta das pedras brutas, duas pérolas in natura transformam-se num requintado par de brincos.