ANTÔNIO GAUDÉRIO/FOLHA IMAGEM

SUSTO Moradores de todos os bairros de São Paulo sentiram o abalo e deixaram seus apartamentos

Um tremor de terra de 5,2 graus na escala Richter – o equivalente a 20 mil toneladas de dinamite – provou que o Brasil não é um paraíso livre de desastres naturais. Às 21h da terçafeira 22, moradores dos andares mais altos dos prédios paulistanos sentiram o chão tremer, viram objetos balançar e desceram apavorados em busca de informações. “Pensei que estava passando mal e corri até a janela para pegar um ar. Foi quando senti que não era eu, mas o prédio inteiro que tremia”, conta Anna Conceição Gomes, 75 anos. Com a população assustada, o Corpo de Bombeiros recebeu 2.200 ligações em apenas uma hora, seis vezes mais do que o normal, e a Defesa Civil atendeu três mil telefonemas nas 24 horas após o episódio, o triplo da rotina do órgão.

O fenômeno em São Paulo foi semelhante ao que ocorre com freqüência no Ceará, Estado com maior índice de sismicidade do Brasil, de três graus – São Paulo é zero. Um deslocamento natural das placas tectônicas aliado a um aumento de esforço sobre o solo gerou rachaduras decorrentes da variação de pressão e densidade nas camadas. Como fatores de contribuição, nada está descartado. Desde um desgaste geológico natural até o aumento da ocupação humana nas cidades, que pesa no solo. As previsões de terremotos são limitadas no Brasil porque faltam episódios de grande magnitude que sirvam como base de comparação e estações e para medir os abalos. Segundo o Observatório de Sismologia da Universidade de Brasília, o Brasil tem 50 estações que acompanham tremores de terra, mas não liberam dados em tempo real. Outras 40 deveriam ser criadas. O custo seria de R$ 1,6 milhão.

O epicentro do terremoto ocorreu no oceano Atlântico, a 270 km da capital e a dez km de profundidade. O sismo abalou com força as cidades de Santos e São Vicente e ainda atingiu os Estados do Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina. Na capital paulista, a trepidação atingiu todos os bairros e danificou 17 construções. Foram registradas rachaduras, queda de reboco e curtos-circuitos em casas e prédios. Em Mogi das Cruzes, a 48 km de São Paulo, o rompimento de uma adutora deixou 20 mil pessoas sem água durante 19 horas. Se o terremoto fosse de 7 graus ou com epicentro mais próximo à cidade – algo factível – boa parte dos mais de 12 milhões de prédios comerciais e residenciais de São Paulo viria abaixo. “O problema não é a intensidade do terremoto, mas a qualidade das construções, que podem não suportar uma pequena instabilidade”, explica José Roberto Braguim, presidente da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (Abece).

As obras paulistanas deixam a desejar. Além das inúmeras construções antigas e improvisadas, um relatório do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco) revela que 80% das pontes, viadutos e edificações na cidade estão com “prazo de validade vencido”, e que algumas obras não têm manutenção há 50 anos. “Os políticos só se preocupam em inaugurar e os sucessores acreditam não ter o reconhecimento da população com a manutenção”, lamenta José Roberto Bernasconi, presidente do Sinaenco. A Secretaria de Infra-estrutura e Obras de São Paulo afirma que, desde 2005, foram concluídas cinco obras de recuperação estrutural e 16 estão em andamento.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Os abalos sísmicos se tornaram freqüentes no Brasil nos últimos oito anos. Em novembro de 2000, um tremor de terra de 3,4 graus atingiu Brasília. Em 2005, um terremoto de 5,5 graus ocorreu em Mato Grosso e, em 2006, outro atingiu o interior de São Paulo e Rio Grande do Sul. Em novembro de 2007, um abalo de 7,7 graus ocorreu no Chile e os reflexos chegaram até São Paulo. No mês seguinte, uma criança de cinco anos morreu esmagada com a queda de uma parede na sua casa, após um terremoto de 4,9 graus no interior de Minas Gerais. Resta aos brasileiros torcer para que os milhões de estruturas vulneráveis das grandes cidades resistam às próximas trepidações.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias