Gabino Avalos e Elsa Condori são bolivianos, trabalham com confecção. O analista de sistemas Lucas Cho veio da Coréia do Sul com a esposa e as três filhas. Mauricio Canero, advogado, é argentino. A empresária Falilat Toyin e a estudante Lyabo Sadiat Lawal, nigerianas. Cada um com sua história, deixaram os países em que nasceram para viver no Brasil, onde compartilham os mesmos sonhos: prosperidade financeira e segurança para a família. Com sua vocação cosmopolita e o dinâmico mercado de trabalho, São Paulo é onde essa nova imigração se faz mais notável. Nas ruas da cidade, especialmente as do centro, latino-americanos, africanos e asiáticos imprimem suas marcas culturais e econômicas e incorporam muito do estilo de vida local. “Os fluxos históricos – de italianos, portugueses, alemães, espanhóis e japoneses – foram bem mais numerosos e trouxeram elementos importantes para a cultura brasileira”, diz Rosana Baeninger, pesquisadora do Núcleo de Estudos de População (Nepo) da Unicamp, sobre os povos europeus que foram incentivados a migrar para o Brasil após a abolição da escravatura. “Os fluxos atuais, em menores volumes, têm importância especial no contexto local, contribuindo para uma reconstrução social de espaços, seja pela mistura de diferentes culturas, seja pelas demandas sociais formadas por esses grupos.”

Os números da Polícia Federal (PF) indicam o registro ativo de 877.286 estrangeiros no País. Não há dados seguros sobre a quantidade de imigrantes em situação ilegal, mas é impossível negar a presença, por exemplo, dos bolivianos em quantidade muito maior do que os cerca de 35 mil registrados na PF. O Centro Pastoral do Migrante (CPM), que presta serviços aos imigrantes na capital paulista, diz que, só em São Paulo, eles são seguramente mais de 100 mil. O aumento das barreiras nos países europeus e nos Estados Unidos e o vigor da economia brasileira em comparação com os vizinhos sul-americanos são fatores que contribuem para colocar São Paulo em evidência nas novas configurações migratórias estabelecidas após as mudanças sociais e econômicas das décadas de 80 e 90. Em 2007, 44.954 estrangeiros tiveram suas entradas no País registradas pelo Sistema Nacional de Cadastramento e Registro de Estrangeiros (Sincre).

“A globalização transita mercadorias e capitais, mas transita gente também. Uma das características desse processo é o fomento da informalidade”, diz Rosana Gaeta, da Secretaria de Participação e Parceria do Município de São Paulo, responsável por projetos cujo objetivo é integrar os imigrantes, como as aulas de português a serem oferecidas a partir de abril no Cibernarium, na avenida São João, ponto de encontro de estrangeiros recém-chegados das mais diferentes partes da América do Sul e África. Segundo Marcilândia de Fátima Araújo, do Ministério da Justiça, “a maioria dos imigrantes vem para trabalhos de base, secundários. A mão-de-obra qualificada permanece temporariamente”.

Mas os levantamentos do Ministério do Trabalho mostram que cresce o número de profissionais qualificados interessados em ficar no País. Em 2007, 2.615 estrangeiros receberam autorização para residir e trabalhar permanentemente no País. É mais do que o dobro das autorizações cedidas em 2004 (1.284) e representa um aumento de 27% em relação a 2006 (2.055). Os números de quem conseguiu visto de trabalho temporário também aumentaram: foram 26.873, contra 23.385 em 2006. Do total de 29.448 autorizações de trabalho concedidas a estrangeiros no ano passado, 17.126 foram para pessoas com ensino superior completo ou curso técnico equivalente. “Esse aumento ocorre pelo maior aporte de capital estrangeiro no País”, afirma Paulo Sérgio de Almeida, presidente do Conselho Nacional de Imigração e coordenador de Imigração do Ministério de Trabalho e Emprego. “Outro fator é a maior aquisição de bens de capital: as empresas estão aproveitando o câmbio favorável para importar máquinas. Isso demanda a vinda de especialistas para implantar e dar suporte a essa maquinaria.”

Refugiados – Aproximadamente 3.700 refugiados reconhecidos, de 69 diferentes nacionalidades, vivem no Brasil – 80% deles vêm da África, a maioria de Angola. Previsto nas legislações internacional e nacional, o refúgio é admitido em caso de deslocamento forçado causado por perseguição devido à raça, religião, nacionalidade ou opção política. Luiz Fernando Godinho, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) no Brasil, diz que a grande diferença entre imigrante e refugiado é que o segundo não escolhe seu destino. “O refúgio não é algo planejado. O imigrante tem sempre a opção de voltar para casa; já o refugiado não tem a opção de voltar para seu país. Mais do que melhores condições, ele busca salvar a própria vida”, afirma Godinho.

C O R E A N O S
ESTIMATIVA DA EMBAIXADA:
50 mil, entre naturais e descendentes, 40 mil deles em São Paulo
REGISTRADOS NA PF: 16.765
ATIVIDADE ECONÔMICA PRINCIPAL: são donos de oficinas de costura e lojas de roupas

Coreanos querem mais qualidade de vida
Ao completar 40 anos, em 2006, o coreano Lucas Cho viu-se numa encruzilhada. Profissional de tecnologia da informação, área na qual a Coréia do Sul é líder mundial, era consultor de uma grande companhia em Seul. A acirrada concorrência e o ritmo acelerado do cotidiano na terra natal, porém, limitavam o contato com a família. Pali pali (cuja tradução literal é “rápido, rápido”) é o nome dado pelos coreanos à cultura de não deixar para o próximo minuto o que se pode fazer agora. Aderir ao culto do pali pali é a única forma de ascender na competitiva sociedade coreana.

Casado com Bak Gong, Cho queria mais qualidade de vida para as filhas, Ha-Min, 6 anos, Yoo-Min, 5, e Soo-Min, 3. Em dezembro de 2006, esteve em São Paulo para analisar as possibilidades de trabalho. No mês seguinte, a família chegou para ficar. “Aqui as pessoas são mais generosas e tranqüilas. Acho que tem a ver com o tamanho e a abundância do Brasil. Na Coréia, nos falta espaço”, afirma Cho, para quem a América do Sul é familiar. Na década de 80, ele viveu por sete anos na Argentina, para onde os pais imigraram para trabalhar no ramo de confecções.

“No Brasil ainda há muitas oportunidades em tecnologia, a curva do mercado é ascendente”, diz Cho, que tem trabalhado com empresas de confecção de pequeno porte. Sua ambição é servir de contato entre grandes empresas do Brasil e da Coréia. Mas espera que a remuneração melhore. “Em Seul cheguei a ganhar US$ 1.500 em um dia de trabalho. Aqui os valores estão muito distantes. Tento compensar na quantidade, atendo muitos clientes.”

Ha-Min, Yoo-Min e Soo-Min são o que os coreanos chamam de geração 1.5 – crianças que nascem na Coréia, mas imigram ainda na infância. As meninas continuam a pedir kimchi (prato tradicional da culinária coreana, feito a partir de uma verdura ou legume – geralmente acelga – fermentado) todo dia, mas também já apreciam os sabores tropicais: sábado é dia de ir à feira e comer banana. A internet ajuda a família a matar a saudade dos parentes na Coréia. E, em pleno século XXI, mesmo do outro lado do mundo há sempre algo que lembre a sua cidade natal. “São Paulo está toda engarrafada, como Seul. A cidade pára na hora do rush”, diz Cho, sem perder a chance de fazer seu marketing pessoal. “O tráfego brasileiro está como na Coréia. Falta a tecnologia”, arremata, com bom humor.

A R G E N T I N O S
REGISTRADOS NA PF: 38.716
REDUTOS: Higienópolis, Moema e Vila Olímpia
ATIVIDADE ECONÔMICA PRINCIPAL: são profissionais liberais e trabalhadores da área de turismo

Mais oportunidades para argentinosBasta escutar os acordes iniciais de Adios Nonino, obra-prima de Astor Piazzolla, e pronto: tomado por súbita emoção, Maurício Canero, 35 anos, tem que se esforçar para conter as lágrimas. “Todo argentino que vive fora do país fica sensibilizado quando ouve um tango”, justifica o advogado, natural da província de Rio Negro, e que há quatro anos mora em São Paulo. “Na Argentina somos muito dramáticos, tudo vira um drama – por isso o tango nos define tão bem. No Brasil cada problema tem sua dimensão correta. Aqui, aprendi a relaxar um pouco.”

Canero deixou Buenos Aires em 2001, para fazer uma pós-graduação em Paris. Um mês após a chegada à Europa, o decreto do corralito limitou seu acesso às economias na terra natal. Para cobrir as despesas, passou a fazer bicos em restaurante, foi assistente de pintor e jogou rúgbi. Durante uma festa na casa que dividia com um brasileiro, conheceu a advogada paulistana Carla Junqueira. O amor à primeira vista virou promessa de casamento. Só faltava decidir em que país recomeçariam a vida juntos. Em dezembro de 2003, Canero desembarcou em Buenos Aires – mas apenas para passar as festas de fim de ano com a família e arrumar as malas. Dois meses depois, ele chegava ao Brasil para ficar.

“Estávamos há três anos fora do mercado de trabalho e o Brasil nos daria mais oportunidades”, diz Canero. Quatro anos depois, a escolha se comprova certeira. “Cresci profissionalmente e financeiramente em São Paulo. Agora quero ampliar a minha área de atuação.” Consultor em direito estrangeiro de um escritório de advocacia paulistano, o argentino calcula que um advogado na metrópole paulista ganhe ao menos 30% mais do que seu correspondente em Buenos Aires. Neste ano, ele vai estudar direito brasileiro e, em dois anos, irá tentar ser aprovado pela OAB.

Há um ano nasceu Arturo, o primeiro filho dele com Carla. “Tenho uma família mercosul. Parte dos meus parentes estará para sempre aqui”, afirma o advogado, que mora nos Jardins, acostumou-se a comer arroz todos os dias e já trocou os encontros em cafés (programa típico dos portenhos) pelas happy hour na região da avenida Paulista. Hábitos que permitem a Canero passar perfeitamente despercebido em meio a uma multidão de paulistanos – até que ele abra a boca. “Já no ‘bom dia’ percebem que sou argentino”, resigna-se com o sotaque inconfundível que os hermanos não conseguem deixar para trás.

B O L I V I A N O S
LUMI ZUNICA/AG. ISTOÉESTIMATIVA DA EMBAIXADA: 70 mil, 50 mil em São Paulo
REGISTRADOS NA PF: 35.716
ATIVIDADE ECONÔMICA PRINCIPAL: trabalham no ramo de confecções

Bolivianos buscam eldorado brasileiro
Nenhuma outra colônia de imigrantes em São Paulo cresce tanto e tão rapidamente quanto a dos bolivianos. Enquanto a Polícia Federal registra cerca de 35 mil em situação legal no País e a Embaixada da Bolívia estima em 70 mil o número total de residentes, entidades que dão suporte aos imigrantes calculam que há pelo menos 100 mil bolivianos vivendo na cidade – há quem fale em até 200 mil. Os números oficiais podem aumentar consideravelmente nos próximos anos. Desde o acordo entre Brasil e Bolívia para a anistia dos imigrantes irregulares que entraram no País antes de setembro de 2005, aproximadamente 20 mil regularizaram a situação ou estão em processo. Cerca de 12 mil foram beneficiados ao comprovar que têm cônjuge ou filhos brasileiros.

O casal Gabino Avalos, 25 anos, e Elsa Condori, 21, se encaixa em ambos os casos. Eles chegaram a São Paulo (ele em agosto de 2004; ela, um ano depois) após cinco dias de viagem por meio da rota de Ciudad del Este, no Paraguai, a mesma dos ônibus que estacionam todos os dias no Brás trazendo bolivianos para trabalhar no ramo da confecção – há dias em que chegam até 150 novos bolivianos ao bairro. Já no Brasil, tiveram o primogênito há um ano e três meses. Kerlon recebeu o nome em homenagem ao jogador de futebol do Cruzeiro famoso pelo “drible da foca”, em que carrega a bola com a cabeça sem permitir uma ação defensiva do marcador.

Os dois jovens bolivianos se conheceram nas ruas do Bresser, onde moram e trabalham em uma oficina de costura. A jornada diária é de 12 horas e a renda mensal de cada um é de R$ 500. “Na Bolívia, eu ganharia o equivalente a R$ 150 e Elsa nem teria um emprego”, diz Avalos. “Aqui, pago minhas contas e consigo poupar um pouquinho para o futuro.” A embaixada boliviana estima em US$ 100 a remessa média mensal de cada chefe de família para a Bolívia. Segundo a Associação Cultural Bolívia-Brasil, assim como Elsa e Avalos, 80% dos bolivianos residentes em São Paulo estão envolvidos com alguma atividade relacionada à costura. Mas o presidente da entidade, Juan Villegas Zuzo, faz uma ressalva: “A colônia boliviana não nasceu costureira; ela se fez em costureira aqui, por conta das oportunidades.”

Para Zuzo, as máquinas das oficinas são apenas ferramentas para alcançar o principal objetivo de qualquer imigrante: prosperidade. O Brasil é visto pelos bolivianos como uma espécie de eldorado, onde a vitória pelo trabalho é possível. O “sonho americano” que buscam fica claro durante a feira de Alasitas, realizada todo 24 de janeiro. No dia, cada pessoa deve comprar miniaturas dos objetos que almeja conquistar durante o ano e benzê-las ao meio-dia – primeiro com um líder religioso tradicional, depois com um padre católico. Entre as réplicas prediletas estão casas, carros de luxo e polpudos maços de notas de reais, euros e dólares.

Segundo os organizadores, em 2008 a feira reuniu cerca de dez mil pessoas. Foi a nona edição da feira e o boliviano Humberto, 35 anos, os dez últimos vividos no Brasil, esteve presente em todas. Enquanto reúne os quatro filhos – os dois mais novos brasileiros – para saborear um plato paceño (iguaria à base de milho, batata e queijo) nas barracas de comidas típicas, ele confessa que ainda não comprou a casa nem o carro cujas miniaturas traz para benzer há quase uma década. Nem por isso pensa em desistir. “Se eu não conseguir, meus filhos conseguirão. Tenho que ter fé e continuar trabalhando.”

N I G E R I A N O S
ESTIMATIVA DA EMBAIXADA: 1.000, a maioria em São Paulo
REGISTRADOS NA PF: 1.108
ATIVIDADE ECONÔMICA PRINCIPAL: trabalham em salões de beleza e com a importação de produtos nigerianos

Nigerianos adotam o Brasil
Lyabo Sadiat Lawal chegou ao Brasil no final de janeiro. Não fala português e estranhou a comida, mas adorou São Paulo – cidade que ela imaginava ser muito menor antes de colocar os pés aqui. Toda manhã nos dias de semana, a nigeriana de 20 anos freqüenta uma escola de cabeleireiros para aprender a trançar e pentear cabelos. À tarde, ajuda a tia Falilat Toyin Lawal, dona de um salão de beleza no centro da maior metrópole da América do Sul. Lyabo gosta do movimento no salão e, segundo Falilat, leva jeito para o negócio. A médio prazo, porém, seus planos são outros. “Quero aprender o português para fazer faculdade e me tornar uma advogada”, diz Lyabo.

No Brasil há 16 anos, Falilat prometeu à sobrinha predileta que a traria para fazer o ensino superior e morar com ela em São Paulo. Na timidez e na dificuldade de Lyabo para se comunicar, a tia reconhece muito de seus primeiros dias. A grande população de afro-descendentes, porém, lhe conferia uma sensação familiar. Aprimorou-se em fazer penteados afros e atendia as clientes em domicílio. “Quando cheguei, não havia produtos para cabelo nem para pele de negros. Comecei a importá-los da Nigéria para vender aqui”, conta Falilat. Enquanto fazia as tranças, aprendeu o português nas conversas com as freguesas. Formada em administração de empresas, um ano após a chegada ela conseguiu alugar seu primeiro salão de beleza, na rua do Arouche.

Hoje, é dona também de uma loja de artigos nigerianos, na qual vende roupas, acessórios e artesanato. Tem casa e carro próprios, e uma família mais da metade brasileira. Conheceu o marido, Otubna Aderonmu, também nigeriano, em São Paulo, por meio de amigos em comum. Empresário e líder espiritual, Aderonmu fundou em 1999 o Centro Cultural Africano, que em abril ganha nova sede, na Barra Funda. Os três filhos do casal, Oluwadamilola, 13 anos, Letícia, 7, e Brenda, 3, são paulistanos e falam português e inglês. Os laços são tantos que as idas de Falilat à terra natal duram cada vez menos e acontecem em maiores intervalos de tempo. “Tenho minha família, meus negócios aqui. Na Nigéria agora sou visita. Meu lugar é no Brasil. Não conseguiria viver em qualquer outro lugar porque meu coração está aqui.”

Um recomeço para os refugiados palestinos
"Assim, não. Já falei como é, mãe.” Pente em punhos, Mahmoud protesta e mostra como quer o cabelo arrumado para o primeiro dia de escola de sua vida. Huda, 28 anos, cede e sorri, enquanto arrepia os fios de cabelo centrais de Mahmoud. O penteado popularizado pelo jogador inglês David Beckham faz sucesso entre a garotada e revela as influências ocidentais sobre o garoto de cinco anos, um dos 57 refugiados palestinos residentes no interior de São Paulo. Eles vieram do campo de Ruweished, na Jordânia, onde viveram por quatro anos e meio depois de fugirem da guerra no Iraque. Muçulmanos sunitas, passaram a ser perseguidos em Bagdá quando a maioria xiita alcançou o poder com a queda do ex-ditador Saddam Hussein.

Em fevereiro, as 15 crianças do grupo assistiram pela primeira vez a uma aula desde a chegada ao Brasil, há cinco meses. Entre elas, o irmão mais velho de Mahmoud, Hossam, de oito anos, que neste curto tempo dominou a língua portuguesa bem o bastante para arrumar uma namorada local e convencer o vizinho da mesma idade a trocar o São Paulo pelo Corinthians. Mais rápido do que qualquer outro da comunidade, Hossam fez do português o caminho para intensificar as relações sociais das quais fora privado ainda no berço. “No campo, meu filho chegou a ficar três meses sem sair de nossa barraca. No Brasil, ele recuperou a infância que a guerra lhe roubara”, diz o pai, Walid, 38 anos, contador. Entre os programas favoritos da família estão assistir à novela das oito e ao humorístico A grande família. Também provaram uma feijoada sem carne de porco, feita por amigos do bairro.

“No Brasil, meu filho recuperou a infância que a guerra roubara”
Do refugiado palestino Walid, pai de Hossam

Através do Programa de Reassentamento Solidário do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, 108 palestinos vieram da Jordânia para o Brasil – um outro grupo foi fixado no Rio Grande do Sul. Quanto antes alcançarem a proficiência de Hossam no português, maiores as chances de arrumarem um emprego, o primeiro passo para deixar o programa de refugiados. O Acnur garante aos beneficiados atendimento médico, aluguel de imóvel e ajuda financeira mensal de quase um salário mínimo por até dois anos.

Avós paternos de Hossam e Mahmoud, o agricultor Mohammad, 67 anos, e a costureira Ibtissam, 66, viveram quatro décadas sob o signo dos conflitos no Oriente Médio. Tiveram um filho durante o Setembro Negro, na Jordânia, em 1970. Perderam uma filha na batalha do Golfo que sucedeu a invasão do Kuait pelo Iraque, em 1990. “Quem me dera ter vindo para o Brasil mais jovem. Ao menos agora posso aproveitar a paz”, consola-se Mohammad, enquanto é puxado pela esposa para um abraço. Demonstrar publicamente o afeto pelo marido é uma das grandes revoluções pessoais de Ibtissam em terras brasileiras. A outra é aprender a língua da pátria que os acolheu. Analfabeta em árabe, ela não perde uma aula de português. “Daqui ninguém me tira mais”, afirma, com largo sorriso no rosto.