Parente distante dos crocodilos, um prestosucos que habitou o Rio Grande do Sul há 225 milhões de anos e media cinco metros arreganha as presas e ataca um bando de pacatos dicinodontes. Mais adiante, o pterossauro Anhanguera, ou diabo velho em tupi-guarani, que habitava a Chapada do Araripe, no Nordeste, há 110 milhões de anos, estende suas longas asas de cinco metros de envergadura. Essas cenas serão quase realidade a partir de 10 de junho, no Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, zona norte do Rio de Janeiro. São alguns dos detalhados cenários da exposição No tempo dos dinossauros. Orçada em US$ 150 mil, a mostra representa a ponta do iceberg do riquíssimo passado paleontológico brasileiro.

O projeto da exposição existe há dez anos, mas só foi possível graças a uma ironia do destino: o destaque que os fósseis brasileiros tiveram na mostra Dinossauros do Gondwana (antigo continente formado pela América do Sul, África, Austrália, Antártica e Índia), realizada em 1998 no Japão. "Ganhamos visibilidade", comemora o paleontólogo Alexander Kellner, 37 anos. A partir daí, os pesquisadores brasileiros conseguiram o patrocínio junto à Petrobras e à Secretaria Municipal de Cultura do Rio.

No tempo dos dinossauros ocupará uma área de 250 metros quadrados, com mais de 100 peças expostas e seis fósseis montados. Numa passarela com piso de vidro, os visitantes poderão visualizar as dimensões de um titanossauro, animal majestoso que media até oito metros. Seus ossos estarão distribuídos em sequência no solo e seu aspecto poderá ser conferido no desenho da parede lateral, de onde sairá o molde de sua cabeça e parte do pescoço. O animal viveu há 80 milhões de anos no atual Estado de São Paulo.

Além de ninhos com ovos de dinossauros, a mostra terá fósseis vegetais e levantará as prováveis causas da extinção dos gigantes do passado. As crianças terão atrações especiais. Além de brincarem de paleontólogos mirins em duas caixas de madeira, onde procurarão réplicas de ossos de dinossauros, levarão para casa o livrinho Gonti, uma aventura no tempo dos dinossauros. Também será editado O Brasil no tempo dos dinossauros, o catálogo oficial da exibição.

As pesquisas tupiniquins só não costumam figurar entre as grandes descobertas tão bem apresentadas em templos da ciência como o Museu de História Natural, em Nova York, por falta de gente e investimento. Existem em todo o Brasil cerca de 20 profissionais, número que será acrescido nos próximos cinco anos de apenas sete pessoas. Mas há luz no fim do túnel. Em 1994, por exemplo, Luciana Carvalho, 26 anos, retomou estudos dos anos 40 que indicavam o registro de répteis marinhos no litoral. Este ano, sua equipe encontrou no Maranhão parte do maxilar de um mosassauro, que poderia ser considerado pelos leigos um monstro marinho e media 14 metros do focinho à ponta da cauda. Há 80 milhões de anos ele era o dono do pedaço. Conviveu com os dinossauros e só cedeu a vez de maior predador dos mares quando se extinguiu.

Em 1998, o paleontólogo Sérgio Azevedo, 43 anos, encontrou no Rio Grande do Sul algumas espécies muito primitivas, chamadas de prossaurópodos, de 200 milhões de anos. "A importância dos fósseis é a informação científica que trazem, para que possam ser traçados a evolução, o ambiente em que viveram, a interação com outros animais e prováveis causas de extinção. Depois disso vão para a gaveta", esclarece Azevedo. Outra descoberta sensacional foi feita por Kellner, em 1997. Estudioso dos pterossauros ou dinossauros voadores, ele achou na Chapada do Araripe uma raridade batizada de Tapejara imperator. "Tinha uma crista parecida com a vela de um barco. Já conhecia as ilustrações do animal, mas só acreditei que ele realmente existiu quando encontrei seu fóssil", revela o pesquisador. Agora todos poderão acreditar no nosso Tapejara imperator.