Uma noite na cadeia foi o bastante para que o jogador Edmundo, do Vasco, detonasse uma nova polêmica. Condenado como causador da morte de três jovens quando dirigia em alta velocidade o seu Cherokee, na Lagoa, no Rio de Janeiro, em dezembro de 1995, o atleta teve sua prisão decretada na quarta-feira 6. O recurso do advogado do jogador contra a condenação, em março, fora negado na véspera pela 6ª Câmara Criminal do Tribunal do Rio. Depois de passar algumas horas sumido, Edmundo se entregou e, por não ter curso superior, foi obrigado a passar 20 horas numa cela comum da Polinter. Nesse período, conviveu com seis companheiros no ambiente inóspito da carceragem e comeu com eles a mesma quentinha que é servida aos presos.

Do lado de fora, enquanto os familiares das vítimas comemoravam a prisão, era possível identificar um surpreendente movimento de solidariedade ao jogador. Até mesmo Romário, que está brigado com o ex-amigo, saiu em sua defesa. “Edmundo não é assassino. Sei que é um cara bom, merece uma chance”, afirmou. O jogador vascaíno acabou sendo libertado no dia seguinte, mas o episódio deixou no ar duas perguntas: num país em que quase ninguém vai parar na cadeia por atropelamento, teria o atleta servido de bode expiatório para a Justiça? Num país manchado por uma gritante injustiça social, a lei, finalmente, será para todos?

Edmundo foi condenado a quatro anos e meio por homicídio culposo. Em processos de acidentes de trânsito não são raros os casos em que a Justiça não condena o réu à prisão, mas sim à prestação de serviços comunitários, como aconteceu com o filho do ex-ministro dos Transportes Odacyr Klein, em Brasília, há três anos. Fabrício, que saiu do local do atropelamento sem prestar socorro à vítima, um pedreiro que caminhava pelo acostamento, só se apresentou dias após o acidente. Pagou indenização (R$ 30 mil) e escapou da cadeia.

Neste tipo de processo, a reputação do réu costuma influir muito, assim como sua posição social. Edmundo é temperamental, irreverente, carrega o estigma de violento e isso certamente pesou na decisão do juiz. “Edmundo não precisava passar 24 horas preso, pois não representa ameaça física a ninguém. A não ser dentro de um campo, quando também é um risco para o adversário com seu talento”, acredita o criminalista Marcelo Cerqueira.
Réu de processo de três homicídios culposos e três lesões corporais culposas, Edmundo só se apresentou à polícia quarta-feira, visivelmente abatido. O jogador teve a oportunidade de viver momentos que já são comuns na vida de seu irmão Luiz Carlos, preso por tráfico de drogas. No ano passado o próprio Edmundo denunciou o irmão quando ele invadiu sua casa da Barra. Apesar de discordar da severidade da punição, Cerqueira acredita no sentido pedagógico do castigo. “A prisão dele serviu como advertência de que ninguém está impune.” Após sair da Polinter, o atleta foi treinar no campo do Vasco, onde foi aclamado pelos torcedores.