Às vésperas dos Jogos de Pequim, poucas profissões estão tão valorizadas na China quanto as de chef e assistente de cozinha. Não é para menos. Responsável pelo restaurante que oferecerá comida 24 horas para os atletas na Vila Olímpica, a empresa americana Aramark está contratando seis mil pessoas para trabalhar na preparação dos alimentos. A procura é justificada pelo tamanho da empreitada. Durante os 60 dias de funcionamento (em que serão disputadas a Olimpíada e a Paraolimpíada), o restaurante servirá mais de 3,5 milhões de refeições – quase o dobro do servido no mesmo período nos Jogos de Atenas, em 2004. Quando a vila estiver com sua ocupação máxima, serão preparadas até 100 mil refeições por dia.

A única alternativa ao restaurante na Vila Olímpica será uma gigantesca filial do McDonald’s. Mas os atletas não têm co que se preocupar. Seguindo os padrões do Comitê Olímpico Internacional, o cardápio do restaurante Aramark é baseado em receitas ocidentais. Os pratos asiáticos representam menos de um terço de todo o menu. Quem quiser experimentar a verdadeira culinária local terá que ultrapassar os limites da vila.

No entanto, uma aventura pela gastronomia chinesa nas ruas de Pequim pode trazer mais do que dor de cabeça e má digestão para os atletas. Frank Puleo, observador do Comitê Olímpico Americano enviado no ano passado à China, ficou chocado com a quantidade de esteróides encontrada em um pedaço de peito de frango comprado em um supermercado. “Era o bastante para que todos testassem positivo em um exame antidoping”, garantiu. Com base no relatório de Puleo, os americanos aventaram a possibilidade de levar consigo todos os alimentos que seus atletas viessem a consumir em Pequim.

A ameaça dos Estados Unidos foi mal recebida pelo governo chinês. O Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Pequim distribuiu um comunicado alertando que não será permitido a nenhum atleta carregar sua própria comida dentro da Vila Olímpica. O Brasil foi um dos primeiros países a apoiar os chineses: o Comitê Olímpico Brasileiro anunciou que toda a delegação nacional será instruída a fazer suas refeições na Vila. Britânicos e canadenses também declararam confiança total no controle alimentar oficial. Mais tarde, os próprios americanos recuaram e afirmaram que seus atletas comerão no restaurante comunitário – mas, por via das dúvidas, mantiveram o acordo com japoneses e australianos para o fornecimento de peixes, frutas e legumes para a base de apoio à delegação dos Estados Unidos, instalada na Universidade de Pequim.