É inevitável. A chegada das primeiras frentes frias anuncia o início da estação das gripes, dos resfriados e das crises alérgicas. Estima-se que no Brasil mais de 12 pessoas de cada grupo de mil idosos são internadas, anualmente, grande parte neste período, por complicações decorrentes da gripe e da pneumonia. No outono e no inverno há também um pico de alergias. Só no Hospital das Clínicas de São Paulo, o atendimento dobra nesse período. Mas não é preciso assistir de braços cruzados à estação passar torcendo para escapar ileso de infecções. Ancorados na experiência e no que pregam as pesquisas atuais, os especialistas apostam cada vez mais na prevenção como a melhor estratégia contra os transtornos da estação fria.

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Nesse período, há dois grupos de doenças mais comuns: as que aparecem como consequência do clima, como as gripes e os resfriados, e as que já existiam e pioram, como a asma, a bronquite e o enfisema. A rinite, a sinusite e a pneumonia também surgem como complicações desses quadros. Tudo isso acontece porque parte do sistema imunológico, responsável pela defesa do organismo, fica debilitada com a baixa temperatura. As células que filtram as partículas do ar e revestem a mucosa interna dos brônquios (espécies de tubos por onde circula o ar) trabalham como se fossem vassouras que jogam a sujeira para fora. Mas elas precisam de uma temperatura ideal para trabalhar bem. No frio, elas perdem a agilidade e deixam passar os microorganismos. Como as células trabalham em marcha lenta não conseguem ainda umedecer e esquentar o ar que chega aos pulmões. Mais seco, frio e poluído, o ar irrita a mucosa pulmonar e facilita infecções em pessoas propensas. Daí para se disseminar é um pulo. “No frio as pessoas ficam mais tempo em ambientes fechados”, diz o alergista Fábio Castro. Fugir de ambientes fechados e com ar-condicionado (que resseca ainda mais o ar), portanto, é uma das estratégias para evitar a agressão ao sistema imunológico.

O frio provoca ainda a diminuição do calibre dos vasos sanguíneos como forma de garantir a temperatura do corpo. E isso prejudica pacientes com problemas cardiovasculares. “Com a mudança de temperatura, o coração sente necessidade de trabalhar mais, só que os vasos estão fechados. A pressão arterial tende a subir”, explica o clínico geral Antônio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica. Por isso é importante andar aquecido e evitar os contrastes térmicos. Afinal, a velha recomendação de não sair de um ambiente quente para outro frio não é balela.

Por causa da fragilidade dos pacientes com problemas cardíacos, a vacina antigripal é indicada. “Todo estado febril, como a gripe, sobrecarrega o sistema cardiovascular. Portanto, é melhor evitá-la”, explica Marta Lopes, da Universidade de São Paulo. A vacina também é recomendada para idosos, diabéticos, pessoas com alguma deficiência imunológica (pacientes com câncer, por exemplo) ou com algum problema respiratório como asma. Mas deve ser evitada por pessoas com alergia a ovo, um dos componentes da vacina. Quanto a sua administração em adultos e crianças saudáveis, não há consenso. “Prefiro preconizar a vacina apenas para as crianças que têm asma e bronquite. As outras têm condições de desenvolver seus anticorpos sozinhas”, diz Marta.

Além da vacina, há outros pilares da prevenção que têm sua eficácia cada vez mais confirmada. A alimentação correta é um deles. O ideal é fazer, no mínimo, três refeições por dia, que incluam carboidratos (fornecedores de energia), vitaminas (fundamentais para o funcionamento do organismo) e proteínas, que são a base para a fabricação dos anticorpos. Nesse cardápio, o melhor é dar preferência aos alimentos quentes e de fácil digestão. “Sopas, por exemplo, ajudam a aquecer o organismo e as frutas contêm vitaminas e fornecem calorias que são facilmente absorvidas”, indica o clínico geral Lopes. Entre as frutas, a laranja, o limão, a acerola e o caju são as que contêm maior quantidade de vitamina C, que aumenta o poder de defesa. Beber diariamente dois litros de água também evita o acúmulo de secreções no nariz e nos pulmões.

Outra medida que comprovadamente mantém o equilíbrio corporal no inverno é a prática de atividade física moderada como caminhar. O que também se tem mostrado uma vacina natural contra os espirros é dar boas gargalhadas ou fazer sexo. Segundo estudo publicado na revista New Scientist, sexo duas vezes na semana aumenta o nível de imunoglobulina A, substância que combate as bactérias. Mas essas atividades têm outros efeitos. “Sexo, exercícios e diversão liberam endorfinas, que promovem o bem-estar e estimulam as defesas orgânicas”, acrescenta Rusie Bacchi, alergista do Hospital das Clínicas de São Paulo. Na prática, realmente dá certo. O engenheiro Edmundo Rossi, 63 anos, além de tomar a vacina antigripal todo ano, também investe em atividade física. “Jogo tênis duas vezes por semana”, conta. “Não fico mais gripado.”

Para os alérgicos, as medidas de prevenção englobam ainda um cuidado especial com a casa e as roupas. “É preciso combater a umidade das paredes e lavar bem todos os casacos e cobertores que estavam guardados”, lembra o pneumologista Clystenes Odyr Silva, da Universidade Federal de São Paulo. Um mês antes da mudança de estação, devem começar a ser usados medicamentos antiinflamatórios e antialérgicos para evitar ou diminuir a possibilidade das crises.