A maior reviravolta nas investigações sobre as mortes de Paulo César Farias e de sua namorada, Suzana Marcolino, tem data marcada para acontecer. Os dois novos delegados do caso, Alcides Andrade de Alencar e Antônio Carlos de Azevedo Lessa, já têm indícios suficientes para indiciar pelo menos um dos seguranças de PC que estavam na casa da praia de Guaxuma na noite em que o ex-tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor de Mello foi assassinado. Trata-se de Reinaldo Lima, o policial militar que comandava a proteção de PC. Depois do crime, Reinaldo passou a ser o segurança dos filhos de Paulo César e hoje trabalha com o deputado Augusto Farias, irmão de PC. Na próxima semana, já autorizados pelo juiz Alberto Jorge Lima, os delegados farão uma reconstituição do crime e o indiciamento do segurança. "O que está no inquérito só aponta para um caminho possível: o indiciamento", diz o delegado Alencar. Com a tese do crime passional – Suzana teria matado PC e se suicidado em seguida – descartada definitivamente, tanto os delegados como o promotor Luiz Vasconcellos estão convencidos de que foi armada uma farsa na cena do crime. Para tentar encontrar os autores dessa armação, os delegados estão avaliando a possibilidade de intimarem para depor o ex-secretário de Segurança de Alagoas coronel José Azevedo Amaral e o delegado Cícero Torres, o primeiro a comandar as investigações e ferrenho defensor do crime passional. "Até o final do próximo mês esse inquérito deverá estar concluído", diz o juiz Lima.

Na verdade, o juiz pretendia terminar ainda mais rápido a fase de investigações policiais, mas esbarrou em um problema de saúde alegado pelo legista da Universidade de Campinas Fortunato Badan Palhares. O legista foi o autor de um laudo que sustenta a versão do crime passional, mas que está repleto de falhas. Por causa disso, Badan deverá dar esclarecimentos à Justiça. "Queremos saber por que um profissional de renome cometeu falhas primárias", diz o promotor Vasconcellos. Na semana passada, o juiz fez um breve contato com Badan. O legista informou estar passando por problemas de saúde e seu depoimento ficou marcado para o dia 20 de maio, em Maceió.

Um fato que tem chamado a atenção dos novos delegados do caso PC é que praticamente todos os que estavam na casa na noite do crime permanecem ligados à família Farias, mesmo quase três anos depois. O deputado Augusto Farias levou Reinaldo para sua própria casa. A mulher do segurança foi empregada no jornal dos Farias. O garçom, Genivaldo, hoje trabalha na Tigre, uma empresa de segurança privada ligada ao parlamentar. José Geraldo da Silva, um outro segurança de PC, hoje é responsável pela proteção dos filhos de Paulo César. A caseira Irene e seu marido continuam na casa de Guaxuma, apesar de a mesma estar praticamente abandonada. Apenas dois seguranças deixaram os Farias: Rinaldo Lima e Adeildo dos Santos. Rinaldo foi assassinado na última Sexta-feira Santa. Segundo o delegado Alencar, o crime pode estar relacionado à queima de arquivo. "Tudo indica que o rapaz caiu em uma emboscada", conclui o policial.

 

 

Um estranho personagem

O senhor da foto abaixo procurou ISTOÉ na sexta-feira 16. Identificou-se como Ailton Lopes, engenheiro, 58 anos. Alegando ter documentos, ele gravou um depoimento de duas horas, posou para fotografias e desapareceu. Suas declarações são bombásticas, ricas em detalhes e, se confirmadas, desnudam várias questões que os brasileiros buscam esclarecer desde que ruiu o esquema Collor/PC. Ele disse que conheceu PC Farias por volta de 1979 e se tornaram amigos. Explicou que em abril de 1990 abriu para PC uma conta na Alemanha usando o nome de Konrad Müller e que essa conta chegou a ter um saldo de US$ 4 milhões. "Os extratos comprovam tudo isso. O dinheiro dessa conta só começou a ser sacado quando Fernando Collor foi afastado", disse. Além do dinheiro no Exterior, Lopes diz que movimentou outros US$ 4 milhões de PC em dinheiro vivo. "Esse dinheiro ficava em um cofre na minha casa e Paulo César usava para pagar pessoas que andavam ao seu redor", explica. "Depois da morte do PC, o saldo foi entregue ao deputado Augusto Farias."

Lopes diz que foi Suzana quem lhe informou do assassinato de PC. "Fui a Guaxuma e encontrei Paulo César morto, sem camisa", afirma. Segundo ele, Suzana teria sido morta cerca de cinco horas depois. "Quando voltei na manhã seguinte, encontrei tudo mudado e a Suzana morta", revela. Lopes se diz ameaçado de morte por saber de muita coisa e por manter na Alemanha cerca de US$ 700 mil. O homem abaixo poderia ser uma testemunha explosiva, já que tudo que conta faz sentido, mas como muitos dos detalhes de sua história não batem com os documentos oficiais, como os horários dos telefonemas que diz ter recebido de Guaxuma, Lopes, por enquanto, é apenas mais um mistério do caso.