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FESTA
A celebração dos corintianos ao deixar a prisão, em Oruro: 106 dias no cárcere

Mãe, nós vamos ser libertados. Estou arrumando a mochila para sair da cadeia.” Essas foram as primeiras palavras ditas ao telefone pelo assistente de logística Danilo Silva de Oliveira, 27 anos – um dos 12 corintianos presos em Oruro, na Bolívia, acusados da morte do boliviano Kevin Espada, 14 anos –, pouco antes de deixar a penitenciária San Pedro. Do outro lado da linha, a agente comunitária de saúde Lucimar Silva de Oliveira, 53 anos, que chegou a pedir um empréstimo bancário de R$ 5 mil para auxiliar o filho detido, sentiu o corpo, enfim, relaxar. “Graças a Deus, o pesadelo chegou ao final”, disse ela, referindo-se aos 106 dias de duração do cárcere.

Danilo e outros seis torcedores foram soltos na noite da quinta-feira 6, após autoridades que investigam a morte do adolescente boliviano concluírem que não há provas para incriminá-los pela morte de Kevin durante o jogo entre San José e o Corinthians. No mês passado, o promotor boliviano Alfredo Santos veio ao Brasil tomar o depoimento do torcedor brasileiro H. A. M., 17 anos, que assumiu ter disparado um sinalizador em direção à torcida adversária. E retornou à Bolívia com um dado relevante: H. A. M. afirmou que o artefato disparado por ele não teria caído na mesma faixa da arquibancada onde se encontrava Kevin.

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DENÚNCIA
Pedido de propina por parte do tio e advogado
de Kevin foi revelado três semanas atrás

Na semana seguinte, ISTOÉ revelou um pedido de propina feito pelo advogado e tio de Kevin, Jorge Ustarez, a Sérgio Marques, que advoga para os familiares dos brasileiros, para inocentar os 12 torcedores da culpa pela morte do sobrinho. “Esses fatos todos foram decisivos para a libertação e chegaram à mesa do chefão da polícia boliviana, que me ligou na terça-feira para informar que iria soltar sete deles”, afirma Marques. À ISTOÉ, a depiladora Roseli dos Santos, 47 anos, mãe de Tiago Aurélio dos Santos Ferreira, 27, falou da emoção que sentiu quando soube que ele havia sido solto: “Foi como se o meu filho e eu tivéssemos nascido de novo.”

Assim que falou com Tiago por telefone, na quinta-feira 6, Roseli e outros parentes de brasileiros detidos em Oruro se reuniram com assessores do ministro da Justiça,s José Eduardo Cardozo, em São Paulo. Como cinco torcedores continuavam presos, representantes do governo informaram aos familiares que um defensor público federal viajaria a Oruro para cuidar da liberação do grupo. Na reunião, foi manifestada a preocupação com dois deles, Cleuter Barreto Barros e Leandro Silva de Oliveira, que apresentaram traços de pólvora nas mãos ao serem presos e foram indiciados como responsáveis pelo disparo do sinalizador que matou Kevin. “Agradeci o apoio do ministério, mas frisei que o governo foi omisso, demorou para procurar nos procurar, dar respaldo”, conta Roseli. “Eles não gostaram muito, mas não vi nenhum pronunciamento contundente da presidenta Dilma.”

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Em nota, o governo brasileiro comemorou a libertação dos brasileiros, informando que “a presidenta Dilma Rousseff, desde o primeiro momento, manifestou ao presidente Evo Morales a preocupação com a situação dos brasileiros detidos na Bolívia”. A pergunta que fica no ar, agora, e que precisa ser respondida é: quem matou Kevin Espada?

Foto: © Daniel Rodrigo / REUTERS


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