Jovem, ingênuo e bem-intencionado ou alguém capaz de colocar a vida de seus colegas em risco apenas para atrair os holofotes? Os dois lados diametralmente opostos do soldado americano Bradley Manning começaram a ser desvendados nos Estados Unidos na semana passada, quando, depois de três anos, foi dado início ao seu julgamento. Acusado de passar mais de 700 mil documentos secretos à rede WikiLeaks – e, assim, cometer 22 crimes –, Manning, 25 anos, é um analista de inteligência que se alistou no Exército para se qualificar para bolsas universitárias e acabou como pivô do maior vazamento de informações confidenciais da história dos EUA. O promotor do caso, capitão Joe Morrow, não tem dúvidas. Para ele, Manning é um traidor em busca de fama. Na abertura do julgamento na segunda-feira 3, ele disse que o soldado colaborou com o inimigo ao “coletar sistematicamente centenas de milhares de arquivos sigilosos e jogá-los na internet”. Morrow quer provar que Osama bin Laden e a rede terrorista Al-Qaeda se beneficiaram das informações publicadas sobre as guerras do Afeganistão e do Iraque.

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HORA DA VERDADE
Se condenado, Bradley Manning poderá
passar o resto da vida numa prisão militar

Do outro lado da trincheira na corte militar americana, Manning se defende com o argumento de que, ao divulgar o material, tentou apenas abrir uma discussão em torno do papel do Exército e da política externa dos EUA. “Selecionei o que tornaria público. Eu acreditava que, se o público geral tivesse acesso às informações contidas naqueles documentos, isso poderia iniciar um debate doméstico”, disse em depoimento numa audiência prévia, em 28 de fevereiro. Em meio aos documentos divulgados por Manning, há, por exemplo, um vídeo de 2007 que mostra um helicóptero do Exército dos EUA atirando num grupo de civis. Entre eles, dois jornalistas da agência Reuters em Bagdá. Há ainda uma série de telegramas enviados por embaixadas americanas a diversos países.

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No site Free Bradley Manning, onde se pede ajuda para cobrir as despesas legais do soldado, Daniel Ellsberg, ex-analista militar que forneceu à imprensa informações do Pentágono relativas à Guerra do Vietnã em 1971, expressou solidariedade. “Ele abriu um novo caminho para a verdade e a justiça alcançarem o mundo.” Ao contrário do promotor, que tacha o soldado de traidor, Ellsberg considera Manning um herói. Com a palavra, a corte americana. A expectativa é que o julgamento leve 12 semanas e sejam convocadas 150 testemunhas. Se condenado, Manning poderá passar o resto da vida numa prisão militar.