Num mundo de cabeça para baixo, o governo Dilma Rousseff faz o possível para manter o rumo, atravessar 2013 e chegar em pé às eleições de 2014. Por mais que seja possível apontar explicações racionais, de caráter técnico, os grandes números de 2013 são preocupantes. A inflação não parou de subir, quando, por todos os cálculos e em função de várias medidas tomadas – inclusive a elevação dos juros –, já deveria ter começado a cair. O crescimento, que parecia garantido por um conjunto de medidas estimulantes, ficou em 0,6% no primeiro trimestre, uma decepção tremenda para quem transmitia a certeza de que o pior havia passado. O brasileiro chega à metade de 2013 demonstrando menos apetite para as compras. O emprego parece assegurado, mas o crescimento segue modesto.

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ALENTO
O setor da construção civil registrou crescimento e ajudou a impulsionar a economia

Não custa reparar que, de uns tempos para cá, o Brasil se tornou mais parecido com o resto do mundo, ainda que esse argumento não sirva de consolo a ninguém que se lembra da campanha presidencial de 2010, quando o país só mudou de fila – saiu do guichê das compras com base em crediário para a urna eleitoral. A favor do PIB brasileiro de 0,6% é possível lembrar que, fora das exceções asiáticas de sempre – a começar pela China, que cresce muito menos do que em outros anos, e de um Japão que surpreende após tanto tempo em banho-maria –, ele não é tão ruim assim. Ficou à frente do México, que se manteve em 0,5%, e empatou com o dos Estados Unidos, que está sendo revisto para baixo. Nem é bom falar sobre o que acontece com a Europa, onde a locomotiva alemã ficou em 0,2 negativos. Termômetro de opções e caminhos, o comércio mundial está fraco, num crescimento entre 1% e 2%.

No capítulo das agruras internas, nem todas as ressalvas podem ser vistas como desculpas esfarrapadas. Dois episódios, que parecem pequenos, tiveram um peso decisivo no resultado final. No primeiro trimestre de 2013, as plataformas da Petrobras fizeram paradas técnicas há muito tempo esperadas. O saldo foi uma perda, apenas aí, de US$ 11 bilhões. Por causa das chuvas, a Vale foi obrigada a atrasar uma volumosa carga de minério de ferro. Para o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, que foi ministro do governo Fernando Henrique Cardoso, é preciso ponderar: “Se você olhar esses dois setores e considerar uma situação normal, o PIB teria tido 0,2 ponto a mais no primeiro trimestre. Seria de 0,8%”, acrescenta, referindo-se a um número que, se pudesse ser anualizado, chegaria a 4,2%. Para quem esqueceu 2012, seria o dobro.

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Essas verdades relativas não conseguem esconder, contudo, que há algo especialmente desanimador no horizonte da economia. Num mercado externo hostil, com economias enfraquecidas, consumidores sem dinheiro e empresas agressivas à procura de mercados externos, o câmbio tornou-se uma barreira ao nosso crescimento – e toda mudança favorável pode encarecer o pãozinho, os eletrônicos chineses e todas as delícias importadas que se tornaram hábito de consumo dos brasileiros em anos recentes. Alavancas estruturais, que funcionaram com facilidade para despertar a economia, já foram usadas com fartura no passado e não devem surtir efeito daqui para a frente.

Num país onde o mercado interno responde por 60% do PIB, o crescimento do consumo com base no crédito popular torna-se muito mais modesto depois que as famílias já estão com o salário empenhado no pagamento de prestações e ficará ainda mais difícil depois que a taxa de juros começou o movimento de alta, numa tendência que dificilmente será interrompida num prazo curto. Embora o governo tenha realizado uma formidável cirurgia na cobrança de tributos, atendendo a uma reivindicação histórica dos empresários do país, até agora não se viu uma contrapartida em sua disposição para investir. A indústria rompeu uma duradoura letargia, e sua produção apontou para um crescimento espetacular de 1% apenas no mês de abril, num movimento que se espalhou por diversos setores, o que é sempre um bom sinal. Será preciso, porém, aguardar pelo comportamento dos próximos meses para se compreender o que isso significa.

A PRIORIDADE DO PLANALTO É A MANUTENÇÃO DO
NÍVEL DE EMPREGO, REFERÊNCIA DE BEM-ESTAR
PARA A IMENSA MAIORIA DOS BRASILEIROS

Do ponto de vista do governo, cujo horizonte se concentra em outubro de 2014, quando Dilma disputará a reeleição, a prioridade segue o crescimento e sua maior tradução, o nível do emprego, referência de bem-estar para a imensa maioria dos brasileiros. O governo está convencido de que a inflação se tornou um problema real, que deve ser enfrentado antes que produza estragos maiores no orçamento das famílias, transformando-se num argumento poderoso nos palanques da oposição. A experiência ensina que os eleitores se afastam de políticos que não se importam com a perda de seu poder aquisitivo. Mesmo jurando que as decisões do Banco Central de Alexandre Tombini são tomadas com total autonomia, o Planalto considera que até agora a alta dos preços não alcançou um patamar suficiente para atingir o principal órgão de decisão dos eleitores: o bolso. Embora tenha tomado conhecimento de pesquisas qualitativas, nas quais os eleitores trocam opiniões sobre o governo e as instituições, o governo considera que até o fim de junho, quando os principais institutos de pesquisa terminarem seus levantamentos, será possível ter uma noção clara do que mudou – e do que permanece como está.