Conheça, em vídeo, outras produções hollywoodianas que possuem criminosos baseados em extremistas:

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O que seria dos filmes de super-heróis sem vilões dispostos a explodir tudo a sua volta? E das aventuras de ficção científica, se em suas tramas a Terra não estivesse sempre sob ameaça apocalíptica? Simplesmente não fariam sentido. A novidade dos novos blockbusters americanos com esse tipo de enredo é que os vilões não são apenas cruéis – eles se apresentam como terroristas cujas práticas equivalem às dos extremistas na vida real. Depois de “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge”, “Os Vingadores” e “Homem de Ferro 3”, mais uma superprodução coloca em cena um personagem movido por ideais difusos e planos de jogar para os ares uma cidade inteira. Trata-se de “Além da Escuridão – Star Trek” (estreia 14/6), mais um capítulo da nova saga “Jornada nas Estrelas”, que começou a ser refeita em 2009 com elenco e enredo repaginados ao gosto do público jovem. Além da presença do “vilão pirotécnico”, o filme discute temas atuais, como o uso de drones para eliminar o inimigo e a necessidade ou não do julgamento de seus crimes antes da sua morte pura e simples. À frente da produção, o diretor J. J. Abrams busca, assim, conciliar “cinema pipoca” e mensagem política. “Fazer entretenimento não me impede de tratar questões relevantes”, diz.

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ATENTADO
Khan (Benedict Cumberbatch) com San Francisco
destruída ao fundo: treinado pela Federação

Na trama, o oficial dissidente que mais tarde revelará ser o arquivilão da série, Khan Noonien Singh (Benedict Cumberbatch), é uma referência ao líder da Al-Qaeda Osama bin Laden e foi treinado pela chamada Federação Unida dos Planetas – como foram os soldados afegãos pelos EUA. O ataque ao planeta primitivo Kronos faz alusão às invasões do Iraque e do Afeganistão no início da Guerra ao Terror. Dos blogs mais lidos aos jornais e revistas de maior circulação, a imprensa americana em peso enxergou nas aventuras de “Além da Escuridão” um comentário ao recente debate sobre a política externa americana em relação ao terrorismo. No livro “The Depiction of Terrorists in Blockbuster Hollywood Films” (A representação de terroristas nos blockbusters hollywoodianos), a jornalista e professora Helena Vanhala, da Robert Morris University, afirma que a presença desses temas nas superproduções atuais representa uma estratégia inteligente dos estúdios. “No cenário pós-11/9, o filme ideal é aquele que casa cinema de ação e ficção científica. As histórias são atraentes para o público porque mostram ameaças e perigos que não se dão na vida real, mas em um mundo paralelo”, diz Helena. Mesmo que, no caso em questão, uma região inteira de San Francisco seja destruída pelo voo desgovernado de uma nave interestelar comandada por Khan.

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FORA DA NAVE
A tropa da USS Enterprise liderada por Kirk (Chris Pine, acima e à esq, apoiado no chão)
no planeta Vulcano e no Planeta Kronos: a exploração dá lugar à invasão guerreira

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Apesar de o enredo de “Além da Escuridão” ser mais acessível aos chamados trekkers (fanáticos pela série “Star Trek”), existe de fato uma discussão interessante correndo paralela às invasões de planetas de nomes estranhos e às perseguições a povos de denominações ainda mais esquisitas. A atual missão da nave USS Enterprise, tendo no comando o capitão Kirk (Chris Pine) e o seu braço direito Spock (Zachary Quinto), é deter a ação de um oficial rebelde chamado John Harrison (disfarce de Khan), autor de uma ação coordenada de ataques em QGs da missão espacial: ele explodiu um escritório em Londres, matou a tripulação de outra nave e ameaça praticar novos atentados. Escalado para capturá-lo a qualquer custo e liberado para fazer uso de mísseis teleguiados de longa distância (o equivalente aos aviões não tripulados usados pelos EUA), Kirk e sua equipe partem para o planeta Kronos, habitado pelos Klingons, que ofereceram guarida ao rebelde – seu esconderijo é uma caverna. Não é preciso muita imaginação para dar nome aos bois.

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ARMA SECRETA
Os astronautas são apresentados ao míssil teleguiado a ser usado
na caça ao terrorista Khan, foragido no planeta Kronos: a mesma
estratégia utilizada com os aviões drones nos dias de hoje

Mesmo com o sucesso de bilheteria, a recepção dos novos blockbusters tem sido dúbia. “Os Vingadores”, por exemplo, que teve a sua première dois dias antes do atentado de Boston, em abril, faturou US$ 1,5 bilhão, mas foi duramente criticado pelo cenário de destruição que mostra. Numa matéria irônica, a revista “Hollywood Reporter” contratou a firma Kinetic Analysis Corp, especializada em avaliar danos materiais, que calculou os estragos a Nova York em torno de US$ 160 bilhões, caso eles tivessem acontecido na vida real – a perda no World Trade Center foi de US$ 83 bilhões. É sabido que, no ambiente posterior aos atentados ao WTC, Hollywood foi acusada de usar e abusar do terror, sendo inclusive colocada na mira da Al-Qaeda. Mais tarde, a própria Casa Branca consultou os estúdios sobre possíveis alvos, já que os roteiristas pesquisavam tanto quanto os agentes da CIA. Segundo Helena Vanhala, a primeira atitude de Hollywood foi engavetar projetos, mas, passada mais de uma década, o tipo de vilão antiamericano mudou. O herói também: “Em ‘Star Trek’ a sua posição ética de levar o suspeito para enfrentar a lei em vez de matá-lo é um avanço”, diz ela.

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