O último trabalho do artista paulista Thiago Honório, “Documents” (2012), realizado durante o programa de residência artística da Faap na Cité des Arts, em Paris, é constituído por uma coleção de objetos cortantes do século XVIII ao XXI. Recolhidos em mercados, feiras de quinquilharias e vendas de garagem da capital francesa, os objetos estão calculadamente enfileirados sobre uma mesa, formando desenhos de precisão cirúrgica. Adquirida pela colecionadora Roberta Matarazzo e doada ao MAC USP em fevereiro, a instalação “Documents” (foto) integra a exposição “O Agora, o Antes”, até 27 de outubro.

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Quando expõe uma coleção de 45 instrumentos de corte, Thiago Honório reafirma seu ímpeto de especular sobre as poéticas do corte, da edição e da montagem. A instalação tem o mérito de abordar transversalmente uma questão cara ao artista desde seus projetos com vídeo e cinema, há dez anos, até a individual “Duelo”, na Galeria Laura Marsiaj, em 2012. Em “Documents”, os objetos estão ao alcance da mão do espectador, como em uma mesa de dissecação, sem redomas ou displays. O fator disponibilidade coloca o trabalho na posição de desafiar – sutil e delicadamente – os padrões de segurança de um museu. Nesse sentido, Honório estabelece um interessante diálogo com a atitude de Lucio Fontana, presente na mesma mostra com “Conceito Espacial” (1965). Para encontrar algo além da bidimensionalidade da pintura, Fontana perfurava e rasgava suas telas. “Fazer esses cortes na história da arte preestabelecida é justamente o intuito da exposição”, afirma o curador Tadeu Chiarelli.

Para além da questão da segurança, os objetos perfurantes também enfatizam, mais que os resultados, os processos de trabalho. “Há tempos queria fazer um trabalho que questionasse – em toda a sua dimensão processual e performática – as camadas da ideia de ‘trabalho’ e a expressão ‘trabalho de arte’”, diz Thiago Honório.
 


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