Em time que está ganhando não se mexe. E em time que está perdendo? Não, nada a ver com a seleção do Felipão. Refiro-me à nossa política econômica.

No ano passado, em toda a América Latina, o crescimento brasileiro superou apenas o do Paraguai. Em 2011, nosso crescimento já tinha decepcionado e, no primeiro trimestre deste ano, nova desilusão. Para piorar, a inflação anual está em elevação desde julho, nosso déficit de transações correntes – o mais importante indicador da saúde das contas externas – vem aumentando desde setembro e nosso déficit público cresce desde agosto de 2011.

Com tantas variáveis macroeconômicas piorando, por que a insistência do governo em seguir por um caminho que não tem trazido bons resultados? A explicação é política e econômica. Até agora, o mau desempenho macroeconômico não afetava a popularidade da presidenta Dilma porque o desemprego continuava em queda, causando elevações de salários. Salários mais altos, somados ao crescimento da oferta de crédito, geravam maior poder de compra para boa parte da população e satisfação com o governo.

Algo começou a mudar. Entre as surpresas negativas dos recentes dados do PIB, a maior foi a expansão pífia do consumo das famílias, até então o principal pilar de sustentação de nosso crescimento. A elevação dos preços e os altos níveis de comprometimento de renda com pagamento de prestações de dívidas já estão minando a capacidade dos brasileiros de ir às compras e a própria popularidade da presidenta.

Não por acaso, o governo deu sinal verde ao Banco Central para enfrentar a ameaça inflacionária, acelerando a alta de juros. Os juros terão de subir ainda mais, talvez ­muito mais, até porque, na falta de medidas compensatórias, a desvalorização do real em relação ao dólar aos níveis mais fracos desde 2009 colabora para a aceleração da inflação.

Se for significativa, a alta dos juros pode debelar o risco inflacionário, porém encarece o crédito e esfria o consumo. Por outro lado, se não for acompanhada de medidas de estímulo à expansão da capacidade produtiva – estímulos a investimentos e produtividade –, transformará o PIBinho em PIBúsculo, com aumento do desemprego e quedas de salários.

Para crescer de forma sustentada a longo prazo, um país necessita de expansões também sustentadas tanto da oferta de bens e serviços quanto da demanda por eles. Se o consumo não se ampliar – como tem ocorrido em tantos países europeus nos últimos anos –, a economia não se expandirá. Se a oferta não acompanhar a alta do consumo, o crescimento econômico será limitado e a inflação subirá, como tem ocorrido recentemente no Brasil.

Entre 2004 e 2010, foi possível evitar esse truísmo econômico porque partimos de um desemprego alto e uma utilização limitada da infraestrutura existente. De lá para cá, incorporamos milhões de pessoas ao mercado de trabalho e o desemprego caiu aos níveis mais baixos da história.

Com parcos investimentos, o atual gargalo de infraestrutura é óbvio. Para completar, políticas voltadas para reduzir as margens de lucro nos setores financeiro, elétrico, de mineração e petrolífero afugentaram investimentos, limitando o crescimento da oferta de produtos e serviços.

Uma mudança no modelo de desenvolvimento do País é inevitável, política e economicamente. Não dá mais para estimular a demanda sem impulsionar o crescimento da oferta. O governo parece ter percebido isso. Recentemente, elevou a remuneração para investimentos no setor ferroviário e aprovou a nova lei dos portos. Para o bem do País, e até das pretensões eleitorais da presidenta, mudanças adicionais terão de ser rápidas, amplas e profundas.

Ricardo Amorim é economista, apresentador do programa “Manhattan Connection”, da Globonews, e presidente da Ricam Consultoria