Uma campanha contra a corrupção no Brasil quem não quer? Só a multidão de corruptos, claro. Mas a entidade não-governamental Transparência Brasil, braço da Transparência Internacional (com sede em Nova York e representação em vários países) está lançando em todo o País uma campanha – com fotos cedidas por Sebastião Salgado – instigando a população a usar o título de eleitor como arma para combater os políticos corruptos nas próximas eleições. Fundada em fevereiro deste ano sob a presidência do empresário Eduardo Capobianco e tendo no conselho diretor a juíza Denise Frossard, o ex-procurador geral da República Aristides Junqueira e o jornalista Juca Kfouri, entre outros, a instituição está captando recursos para botar a campanha nas ruas.

O Brasil precisa mesmo dessa empreitada: em pesquisa da Transparência Internacional, realizada no ano passado em 99 países, aparecemos na 45ª posição, em companhia de Zimbábue, Marrocos e Malásia. Acima de nós, um pouquinho menos corruptas, estão a Polônia e a Mongólia. O país que recebeu nota máxima é a Dinamarca. Na ponta oposta, o mais corrupto é a República dos Camarões. “Esse é nosso primeiro trabalho, a campanha e também o lançamento de um livro que fala como lidar e combater a corrupção, além de identificar as formas como ela aparece”, diz Denise Frossard.

A juíza explica que convivemos com focos de corrupção sem perceber. Por exemplo: o que é um “assessor especial para assuntos específicos”, tão comum em órgãos do governo? “Se esse indivíduo não tem função clara, é muito provável que ele esteja no esquema de desvio e repasse de verbas, lavagem de dinheiro, etc”, conclui.

Eduardo Capobianco lembra que os R$ 223 milhões investidos no TRT paulista não dimensionam o dinheiro que foi jogado no lixo (ou melhor, nas contas particulares). “Na construção civil, um investimento tem efeito multiplicador de cinco vezes. Esses R$ 223 milhões são, na verdade, R$ 1 bilhão e 100 milhões, pelo que não foi criado de empregos e desdobramentos naturais de uma obra. A roubalheira foi muito maior.” Capobianco diz que a campanha vai, também, mostrar que o custo da corrupção está muito alto para o bolso dos brasileiros: cada cidadão perde, por ano, R$ 6 mil em renda per capita por conta desses roubos.

Os pontos a serem atacados pela entidade são: eleição (para conscientizar o cidadão e monitorar os gastos de campanha), licitações e contratações (um dos focos da corrupção entre setores públicos e privados), elaboração de orçamentos públicos e Justiça, no sentido de aumentar a transparência. Paralelamente, identificar a corrupção em cargos que dão livre arbítrio ao homem público, como os fiscais, por exemplo. É uma malha muito extensa, mas que não assusta essa turma do TB. “Temos o principal apoio, que é o do cidadão, que está realmente cansado”, afirma Capobianco.