Já acuado pelo mar de denúncias contra seu ex-secretário Eduardo Jorge, o presidente Fernando Henrique Cardoso foi alvo de mais um petardo disparado por um ex-integrante de seu governo acusado de corrupção: o ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes, personagem-chave do escândalo do Marka, do banqueiro foragido Salvatore Cacciola. Pela primeira vez, o presidente foi citado no processo, e pelo próprio Lopes, durante depoimento ao juiz Abel Gomes, da 6ª Vara Federal, do Rio, na terça-feira 25. Chico Lopes afirmou que FHC foi informado dos problemas na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) às vésperas da desvalorização cambial, em janeiro do ano passado. Segundo Lopes, FHC teria sido informado das dificuldades durante um almoço no Palácio da Alvorada, em 14 de janeiro, três dias antes da autorização para a operação de socorro aos bancos Marka e FonteCindam, que lesou os cofres públicos em R$ 1,574 bilhão. Além do presidente e de Chico Lopes, estava no almoço o ministro da Fazenda, Pedro Malan. Lopes não soube dizer ao juiz se Malan chegou a participar de toda a conversa.

Dois dias depois do depoimento, Fernando Henrique admitiu, por intermédio de seu porta-voz, ter recebido relatos genéricos sobre o assunto, mas não confirmou ter sabido de detalhes sobre os riscos de insolvência nos contratos futuros de dólar negociados na BM&F. Malan insiste na tese de que tinha total desconhecimento do fato, apesar do jantar, e de ter, no dia seguinte, embarcado no mesmo vôo com Chico Lopes para Nova York. O mistério envolvendo o escândalo é cada vez maior. As autoridades monetárias à época da operação afirmam que o País estava à beira de um “risco sistêmico”, ou seja, se um banco fosse à bancarrota naquele momento, poderia haver uma quebradeira no mercado. Se o argumento é verdadeiro, é inimaginável que o ministro da Fazenda não tenha sido informado do que se passava no BC.

As declarações de Chico Lopes só não foram mais complicadas para o Planalto porque o Ministério Público não tem qualquer interesse em mudar o curso do processo. Comprando a versão de Malan de que não tinha conhecimento, os três procuradores designados para o caso mantêm a tese de que o risco sistêmico não passa de falso argumento dos acusados. Na avaliação dos procuradores, a menção do nome do presidente foi apenas uma tentativa de Chico Lopes de atenuar sua responsabilidade no caso. A tendência dos procuradores é de não provocar o juiz para arrolar o presidente como testemunha.