Há seis anos São Paulo e Rio de Janeiro não viam um frio igual. Fenômenos como o El Niño sempre impediam que as temperaturas baixassem muito na região Sudeste. Resultado: as roupas quentes da vitrine encalhavam e os comerciantes aprendiam a duras penas que o estoque de lã deveria ser mínimo. Dessa vez, deu zebra. O frio deu as caras e pegou todo mundo de calças curtas. Como o inverno demorou, as liquidações começaram antes de junho. Mas bastou os termômetros baixarem para o consumidor correr atrás de blusões, aquecedores, edredons, casacos. Paulistas e cariocas entregaram os pontos e assumiram de vez o estilo cebola: camadas e camadas de roupas, uma em cima da outra. De manhã, todos saem cobertos. Por volta do meio-dia, a pesada indumentária é despida. Quando começa a escurecer, as roupas voltam a se empilhar nos corpos.

O estudante paulista Leandro Robles, 21 anos, é um cebolão típico. “Visto tudo o que tenho no armário”, afirma. O rapaz sai de manhã com luvas, cachecol, jaquetão de nylon forrado, duas malhas de lã, uma camiseta grossa, uma camiseta de mangas compridas de algodão. Veste ainda duas calças – uma de moleton por baixo de uma de brim – e duas meias. Ele pouco se importa se as peças não combinam entre si.

Enquanto no Sul do País o poncho gaúcho jamais chegou a mofar, a região Sudeste nunca precisou se preocupar com o conforto (veja quadro) para enfrentar temperaturas baixas. As pessoas também se acostumaram a gastar o mínimo para enfrentar poucos dias de inverno. Daí o assalto aos armários em busca de qualquer peça quente. Mesmo velha. Com a temperatura mínima em São Paulo de 4º, Tânia Pacheco jogou uma estola de pele sobre o vestido tomara-que-caia para um casamento, na semana passada, e trincou os dentes. “Achei que até o dia da festa o frio já teria ido embora, como sempre acontece. Mas não pára de chegar frente fria”, reclama.

Com os cariocas a situação ainda é pior. A mínima foi de 7º. Para o Rio, é um “frio de rachar”. Para enfrentar a chuva e o vento gelado, todo mundo se refugiou nos shoppings. O Via Park, na Barra da Tijuca, lotou no domingo, 23. A área de brinquedos tinha fila de pais e crianças irritados com o tempo. A administradora de empresas Juliana Liedke aproveitou para comprar roupas quentes para a filha Luiza, oito meses. As duas vestiam japonas vermelhas de nylon, forradas de lã e capuz. “Carioca fica órfão sem praia. E comprei pouca coisa para não encalhar”, diz Juliana. Pensando como ela, a maioria dos cariocas sai acebolado pela rua, numa elegância duvidosa (veja quadro). Mas há quem resista ao efeito cebola como o empresário paulista Fred Ribeiro. Depois de morar na Suécia, ele o-de-i-a se encher de trapos. Veste casacões longos, boinas e, por baixo do casaco, apenas uma malha ou camiseta fina. Assim, ele frequenta a happy hour diária do Bardrugada, em Campo Belo. “Os brasileiros não sabem se vestir para o inverno. Os bares não têm calefação como no Exterior. Mas, quando ficam cheios, esquentam e dá para ficar apenas de camiseta”, ensina. “As mulheres do Bardrugada tiram tanta roupa que usam a cadeira como closet!”, observa. Se dependesse de Fred, elas usariam apenas um xale em cima de um decote ousado. “Seria um paraíso!”, brinca.

 
Casas geladas

A arquiteta e decoradora Brunete Fraccaroli decreta: “Tanto as residências de São Paulo como as do Rio não possuem infra-estrutura para o inverno.” É que as pessoas só costumam se preocupar com o conforto quando um frio além do habitual aparece. “Em geral, elas saem correndo para comprar um aquecedor, mas são tão feios que desistem. Preferem passar frio a ter aquela coisa horrível em seus apartamentos”, constata Brunete. Em suas últimas viagens ao Exterior, no entanto, ela viu dezenas de aquecedores de ambiente, de piso, de banheiro e de toalhas com designers super-arrojados. “São lindos, coloridos, enfeitam qualquer espaço. É só mandar trazer”, confirma. É assim que ela tenta convencer seus clientes que não moramos num país tão tropical assim. Ela ainda aconselha a construção de lareiras em casas. “Mesmo que sejam usadas por pouco tempo, decoram o ambiente”, diz.

Para ficar elegante

 

Nas liquidações, escolha cores básicas como preto, marrom, marinho e bege. Elas sempre ficam bem, se misturadas. Botas agora estão em alta, mas nunca saem de moda. Vale investir. n Opte por casacos, blazers ou malhas no estilo clássico. Esqueça as cores berrantes ou estampas zoológicas. Caso o inverno volte, você terá um estoque elegante, mesmo que seja acebolado.

Colaboraram Camilo Vannuchi e Celina Côrtes (RJ)