A joelhar sobre a terra úmida e presenteá-la com novas plantas após um dia turbulento de trabalho funciona como terapia. Acostumado ao ritmo alucinante dos estúdios de televisão e das salas de espetáculo, o casal Artur Kohl e Natália Barros, de São Paulo, encontrou no quintal de sua casa uma bela alternativa à psicanálise. A paixão tornou-se tão avassaladora que a dupla resolveu capitalizar. Agora, faz jardins sob encomenda, desde a concepção do projeto paisagístico até a sua concretização. “Eu seleciono as espécies vegetais e faço a programação visual do espaço. O Artur é o jardineiro; é ele quem faz o trabalho braçal”, explica Natália. Vítimas das oscilações do mercado, os artistas encontraram na jardinagem uma maneira de garantir sua renda durante os tempos de vacas magras, além de uma ótima desculpa para exercer seu hobby. “Gravamos peças publicitárias, vídeos, mas raramente temos emprego fixo”, diz Natália.

Com um canivete sempre no bolso direito, Kohl dispensa luvas ou qualquer “frescura” para botar a mão na massa. O contato com plantas remonta a sua infância, quando perambulava curioso entre as espécies cultivadas no sítio da família. “Ajudava a minha avó desde moleque. Ela, muito simples, aprendeu jardinagem vendo os outros fazer”, lembra Kohl, conhecido por sua participação em comerciais da Brastemp, entre outros. É ele quem junta folhas secas ao esterco produzido em seu galinheiro para melhorar a qualidade da terra. Já Natália, após passar toda sua infância em Santos, trocou o asfalto da cidade pelo mato da chácara onde mora, na região de Cotia, Grande São Paulo. “Eu chamava terra de areia. O Artur ficava indignado”, confessa. Para compensar as gafes, Natália resolveu estudar e admite ter aprendido bastante sobre os bastidores da jardinagem. “Todo mundo quer ver flores no quintal, mas ninguém se preocupa com a nutrição do solo. O jardim é um reflexo da atitude que a sociedade tem diante da vida, acostumada a consumir sem nunca contribuir”, filosofa.

Sempre que aparece um novo cliente, Natália tenta saber qual será a utilidade do jardim. Para alguns, o jardim é para ser observado. Outros querem estar nele. Seu último cliente, Edgar Scandurra, guitarrista da banda Ira!, encomendou o seu com um olho na mulher e o outro no filho de um ano. Sua casa em Pinheiros tinha um quintal pequeno e bastante escuro, mas Artur e Natália resolveram o problema. “Deixamos um espaço vazio rodeado de pedras brancas para Andréa, a mulher do Edgar, fazer ioga, e estamos colocando um balanço para seu filho”, conta Natália. Se o proprietário do jardim for aficionado por culinária, receberá algumas ervas e, quem sabe, uma singela horta. Consciente de que perderá seu espaço no show business conforme a idade avançar, a atriz e cantora planeja uma velhice entre plantas. “O trabalho na tevê vai esgotar. Me vejo fazendo apenas jardins no futuro”, diz.