As coisas neste final de milênio estão melhores do que estavam, por exemplo, em 1895, quando H. G. Wells publicou o romance A máquina do tempo. Nele, seu personagem principal construiu um veículo para viajar no tempo, rumo ao futuro – mais precisamente para os gloriosos dias de hoje. Certo, ainda existem miséria e sofrimento na Terra, obrigado por lembrar. E tem mais: o trabalho anda uma chatice, a casa está a maior bagunça e S.O.S. Malibu está em reprise. Não é nossa culpa – é a vida. A vida não faz sentido mesmo. No entanto as coisas estão bem melhores do que foi imaginado por Wells há mais de 100 anos. Aliás, estão ficando melhores a cada minuto. Para falar a verdade, estão muito melhores agora do que estavam às 10 da manhã, graças a duas aspirinas e uma Coca.

Viver no fim do século passado não era mole. O verbo "trabalhar", por exemplo, tinha outro significado, nada parecido com "trabalhar o abdômen" ou "trabalhar uma relação". A maioria do povo ainda morava na roça e dava um duro desgraçado – e nem queira imaginar como as vacas acordam cedo! Trabalhar o dia inteiro sob o sol, antes da invenção do filtro solar e do biquíni, representava um perigo à saúde. E, quando voltavam para casa, as pessoas ainda precisavam criar sua própria diversão – e, como acontece com todos os projetos do tipo "faça-você-mesmo", os resultados eram quase sempre lamentáveis. Felizmente, nessa época a dor de cabeça e a ressaca já podiam ser curadas com aspirina, inventada em 1897 pela Bayer, e a Coca-Cola, o "tônico cerebral e intelectual", de 1886.

Outras invenções revolucionárias estavam a caminho. A primeira transmissão pública de rádio aconteceria no Natal de 1906 em Boston, embora só pudesse ser ouvida pelos navios na costa de Massachusetts – até então, a invenção de Guglielmo Marconi era usada apenas nas comunicações marítimas. O fonógrafo, inventado em 1877 e que deu fama mundial a Thomas Edison, não era um eletrodoméstico popular, era mais um brinquedo. Seus cilindros de cera tocavam por pouco mais de um minuto e ficavam imprestáveis depois de uma meia dúzia de audições. Embora a primeira música tenha sido gravada em 1878 – um solo de Yankee Doodle, tocado por um trompetista nova-iorquino –, foi preciso esperar pelo gramofone de disco plano e pela boa vontade dos desconfiados cantores para que a música pudesse ser ouvida no conforto doméstico.

Durante anos os cantores de ópera recusaram-se a gravar suas vozes – mas só até o italiano Enrico Caruso ficar fascinado com o gramofone. "Mama mia! Se eu cantar para a campânula dessa nova geringonça, poderei ser ouvido por multidões e aumentar minha fama", o tenor deve ter pensado. Em 1902, ele gravou a ária Vesti la giubba, da ópera I Pagliaci, e vendeu mais de um milhão de discos. Só não ganhou o disco de ouro porque isso ainda não existia.

Os altos padrões de luxo e conforto, todavia, eram só para poucos. Telefone, automóvel e banheiro eram um privilégio dos ricaços. As moças iam à praia vestidas da cabeça aos pés e não resistiam quando eram paqueradas por um "chauffer" – como os franceses chamavam quem dirigia um De Dion Bouton ou um Daimler.

Todas as características básicas do automóvel já estavam definidas na virada do século. Em 1901, o novo modelo da Daimler foi chamado de Mercedes, uma homenagem à filha do maior revendedor da marca em Nice, na Riviera francesa. Isso deu início à moda dos carros grandes, luxuosos, potentes e que custam os olhos da cara. O Modelo T, de Henry Ford, popularizou o automóvel sete anos depois, tornando-o a manifestação mais característica do século XX. As ruas das grandes cidades deixaram de cheirar a esterco e foram ficando cada vez mais enfumaçadas. Embora não houvesse rodovias, em 1908 aconteceria a corrida em que o automóvel se impôs: de Nova York a Paris, via estreito de Bering. Demorou 112 dias e demonstrou o que a indústria automobilística desejava provar: a eficiência e viabilidade da nova máquina. Em 1965 essa saga seria contada no divertido filme A corrida do século, com Tony Curtis e Natalie Wood.

O cinema também estava dando os seus primeiros passos. As pioneiras exibições públicas foram feitas pelos irmãos Lumière em 1895. Na Exposição Universal de Paris de 1900 foram apresentados filmes sonoros numa tela gigante, de 15 metros de altura por 21 de comprimento, montada sob a torre Eiffel. Diariamente, mais de 25 mil espectadores ficavam encantados com as cenas de Cyrano de Bergerac com diálogos mais ou menos sincronizados, gravados em cilindros de cera. Outra novidade apresentada na exposição foi o cinerama, uma tela de 360 graus sobre a qual estavam apontados 11 projetores. É claro que esses filmes não passavam de experiências com gente em movimento. Ainda estávamos longe de Doutor Fantástico e Os Monkees estão à solta, mas a diversão prometia. Bastava deixar a imaginação voar, embora voar ainda fosse com os pássaros.

Na última década do século XIX, no entanto, os desbravadores dos ares estavam à solta. O engenheiro alemão Otto Lilienthal já tinha feito centenas de experiências de vôo controlado com planadores, mas morreu em 1896, quando sua asa-delta perdeu velocidade e caiu, no que seria o primeiro acidente aéreo causado por um erro de pilotagem.

Ferdinand von Zeppelin construiu em 1900 o dirigível que viria a ser conhecido pelo seu nome e mais tarde batizaria uma banda inglesa de rock. Um ano depois, Santos Dumont pilotou seu dirigível em forma de charuto entre a torre Eiffel e Saint-Cloud, ida e volta, até que em 1903 o homem de fato voou. Primeiro foram os irmãos Wright, depois Santos Dumont, mas isso está sempre sujeito à discussão e agora não é hora de arrumar encrenca.

A primeira década do século XX foi, para citar Hollywood, a época dos "homens maravilhosos e suas máquinas voadoras", quando os aviões eram considerados cavalos alados destinados ao esporte e ao espetáculo. O sonho acabou em 1909, quando o francês Louis Blériot atravessou pela primeira vez o canal da Mancha num monomotor, façanha que lhe rendeu mil libras pagas pelo jornal londrino Daily Mail, que assim descreveu sua chegada: "Na madrugada fria e cinzenta, ainda antes de o sol começar a aquecer a terra e a dissipar as gotas de orvalho, ei-lo que aterrissa em nosso país. É de fato o início de uma nova era." Sem dúvida. A partir de então, parece que todo menino passou a sonhar em ser aviador. Piloto de caça, de preferência. Porque a breve e espetacular época da aviação amadora logo seria substituída por uma indústria subsidiada por governos em busca de novas armas de guerra.

Sim, havia guerra e era um inferno – só que não tinha a CNN para mostrar. Os EUA tinham acabado de quebrar o pau com a Espanha e ganhado Porto Rico, enquanto a rainha Vitória iria perder a África do Sul na guerra contra os boeres (1900). De certa forma, as coisas continuam as mesmas.