Dois anos e meio depois da privatização das empresas petroquímicas, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) encontrou a fórmula química para enrijecer os músculos do setor. Está nas mãos do próprio presidente do banco, José Pio Borges, o novo desenho da petroquímica brasileira, segmento que cresce quase três vezes mais do que o Produto Interno Bruto (PIB) e movimenta mais de R$ 10 bilhões ao ano. Como um jogo de xadrez, as peças são mexidas meticulosamente para evitar conflitos de interesses. A pedido dos empresários, o BNDES deve anunciar a fusão dos grupos nacionais em dois grandes pólos de produção, juntando as centrais de fabricação de matérias-primas com as empresas de segunda e terceira geração, que fornecem produtos, por exemplo, às indústrias de plástico. Um deles estará situado na Copesul, na cidade gaúcha de Triunfo. Lá, já mandam Odebrecht e Ipiranga. O outro ficará em torno da Copene, em Camaçari (BA). A idéia é permitir que as empresas alcancem escala suficiente para se tornarem fortes competidoras globais.

Quem ganhará espaço é o grupo Ultra, do empresário Paulo Cunha, membro do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Ele deverá assumir o controle da Copene, a maior central de matérias-primas da América Latina, adquirindo a participação da Odebrecht por intermédio do BNDES. A informação foi confirmada a ISTOÉ por um diretor do próprio banco. Fortalecendo seu grupo, Cunha será um dos grandes do setor. Nos encontros do Iedi com o presidente Fernando Henrique, em meio à onda de chiadeiras dos empresários contra a política econômica no final de 1998, ele chegou a ser sondado para o cargo de ministro da Produção. Cunha não quis assumir o risco político, preferindo cuidar dos próprios negócios. "Ele tem boas relações com o Planalto e isso deve ter facilitado", disse um executivo que acompanhou as negociações. Procurado, Cunha preferiu não falar.

No novo desenho, a Odebrecht deverá emagrecer, mas ainda assim manterá sua condição de maior representante brasileira no setor. A empresa foi pega no contrapé da desvalorização cambial. Tinha uma dívida de R$ 1,6 bilhão, a metade em dólar. Só a Trikem, o braço do grupo no Nordeste, estava com um endividamento de R$ 882 milhões. Diante disso, não houve saída senão concordar com uma operação de salvamento. "Foi imposição do BNDES", diz uma fonte próxima à direção da empresa. Em troca de um empréstimo de R$ 340 milhões a ser liberado pelo banco, a Odebrecht vai aliviar sua situação de caixa, mas será obrigada a sair da Copene, entregando sua participação ao Ultra. Não foi a melhor solução para o grupo, mas a mais viável no momento.

Desde 1979, quando escolheu o setor petroquímico para investir, Emílio Odebrecht era grande timoneiro do mercado. Começou a incomodar quando planejava ser o gigante do setor, quase adquirindo o controle da Copene e assinando um polêmico acordo com a Petrobras no pólo de Paulínia (SP). "Eles agiam como o sujeito que começa a comprar tudo, mas na hora em que perde o emprego fica sem renda", diz Reginaldo Alexandre, analista do Banco BBA. Quem ficou a ver navios foram os estrangeiros, principalmente a Dow Química, que atua há 40 anos no País. Com a intervenção na petroquímica, o governo volta a dar solução aos enroscos da indústria nacional. É uma história com capítulos já marcados. O BNDES deverá agora se debruçar sobre as indústrias siderúrgicas e de papel e celulose, quando terá de encontrar outra química para estimular a fusão ou associação de empresas.