O defletor da Ferrari é como o jogador Sandro Hiroshi. Contribuiu pouco para a equipe, mas foi o erro técnico que os adversários precisavam para tirar vantagem numa manobra legal. No mundo preciso da Fórmula 1, a falta de um centímetro na base dos defletores, que auxiliam na passagem de ar pela lateral do carro, foi o suficiente para que os dois pilotos da escuderia italiana – Michael Schumacher, que havia vencido o GP da Malásia, no domingo 17, e Eddie Irvine, que chegara em segundo – fossem desclassificados da corrida. Um prêmio imerecido para o finlandês Mika Hakkinen, que herdou não só o primeiro lugar, como também o campeo-nato, já que, confirmada a decisão, ele não poderá mais ser alcançado por Irvine, com quem disputava ponto a ponto o título da temporada. A Federação Internacional de Automobilismo (FIA) divulga neste final de semana a decisão sobre o apelo da Ferrari, que alega não se ter beneficiado pelo erro. A punição gerou polêmica até entre os caciques do mundo da Fórmula 1. “Foi uma decisão insensata”, atacou Bernie Ecclestone, presidente da associação das equipes. “Regulamentos devem ser respeitados”, rebateu Max Mosley, que comanda a FIA. E o ex-piloto da Ferrari Niki Lauda também meteu sua colher: “Seria um absurdo proclamar um campeão no domingo e na sexta-feira lhe negarem o título.”

Veloz mesmo foi a McLaren. Afinal, a Ferrari apresentou os novos defletores na prova anterior, em Nurburgring. Lá, as peças teriam sido fotografadas e analisadas pelo projetista-chefe da McLaren, Adrian Newey, que constatou o problema. A equipe inglesa manteve sigilo até o final da corrida da Malásia, quando exigiu a vistoria da FIA. A artimanha talvez explique a acomodação de Hakkinen ao longo do último GP. De todo modo, por trás da manobra está o cansaço da McLaren em esperar que Hakkinen confirme na pista o favoritismo alimentado pela ampla superioridade técnica da equipe. O virtual bicampeão mun-dial chorou o erro de Monza e, na sequência, mostrou absoluta falta de arrojo quando a chuva deixou a pista de Nurburgring escorregadia. Para Rubens Barrichello, futuro piloto da Ferrari, a trapalhada tem duas faces: a boa é que Barrichello ainda poderá ter a honra de tirar a equipe do jejum de 20 anos sem título. A má é que, confirmada a punição, o francês Jean Todt, principal entusiasta da contratação do brasileiro, deve ser demitido do cargo de diretor-técnico da equipe.