A dançarina Bia Ocugne é um espaço dedicado à contemplação. O ambiente evoca suas inúmeras viagens à Índia: cerca de 35 imagens de deuses como Ganesh e Shiva guardam os cômodos. É em casa também que ela dá suas aulas, de flamenco à dança hindu. Bia é o retrato de uma tendência. “Muita gente passa mais tempo em casa e acaba transformando o lar num verdadeiro templo”, diz Clotilde Bassetto, arquiteta, astróloga e massoterapeuta. A moda que começou com o feng shui se traduz hoje em outras linhas e nos mais variados objetos de decoração. Existe um enorme arsenal no mercado para compor esses templos modernos. Valem prismas de cristal ou cheios de água, velas, incensos, imagens de deuses orientais e de santos, fontes dentro de casa, sinos de vento. “Tudo isso pode ajudar. Mas o importante para gerar bem-estar é a intenção, a ligação interior da pessoa com a situação e com seus desejos”, opina Clotilde. “O altar, só, não basta.”

A situação, porém, faz crer que santo de casa faz milagre: os altares voltaram à moda. Na feira que acontece aos sábados na praça Benedito Calixto, no bairro paulistano de Pinheiros, diversas barracas vendem imagens de santos católicos. É o caso da do marceneiro Francisco Silva Costa. “O que tenho vendo”, diz ele. Suas imagens vão de R$ 60 a R$ 600.

Espelhos também entram nesse tira-daqui-ativa-ali de energias. Pretende-se, com eles, refletir as más energias, como que num bate-volta. “Faz um bom tempo que as pessoas têm procurado espelhos por causa do feng shui”, diz Ana Francisca Fraga, dona, há quatro anos, de uma das barracas na feira da praça. Nessa onda de dar significados a tudo dentro da casa, resgatam-se antigas tradições. O sino de vento dos povos indígenas americanos é conhecido como purificador. O filtro de pesadelos era colocado na porta da tenda ou onde dormiam as crianças. Feito em geral com cordas, barbantes e penas, aqui no Brasil, ele é posto na cabeceira das camas. Custa de R$ 18 a R$ 56.

Guarda-roupas também não são mais arrumados só para que se possa achar a roupa desejada. Agora acredita-se que jogar fora tudo o que não é mais usado pode ativar as energias. Muita gente já se especializou na tarefa e está ganhando dinheiro. Suzelee Holand Pinho, que começou a arrumar armários a pedido de amigos, é uma delas. Por ter estudado Biblioteconomia, decidiu organizar também livros, CDs e fotografias. Uma porta de armário arrumada por Suze sai entre R$ 40 e R$ 70. “Chego a recusar pedidos por não ter uma equipe”, conta.
Plantas reforçam essa busca pela paz e pelo equilíbrio. A espada-de-são- jorge, antiga protetora contra mau-olhado, voltou, agora mais chique, como benfeitora das casas. O ikebana, criado para expressar conceitos do budismo, também foi reciclado. A cada 15 dias, há quatro anos, a professora de ikebana Regina Comenale visita a casa de sua cliente Helena Barreto para refazer os arranjos de flores.

Paciência – “Alguns me encantam tanto que carrego comigo pela casa”, conta Helena. Atualmente, 18 dos arranjos feitos por Regina enfeitam a casa de um banqueiro e a agência de publicidade DPZ. O botão de flor fechado representa o futuro. A flor aberta, o passado; e a entreaberta, o presente. “O ikebana é a expressão do belo”, diz Regina. O arranjo harmoniza ao ambiente e desenvolve a concentração e a paciência do praticante.
Ter uma fonte em casa alivia o ambiente. E nem precisa ser a cascata da Casa da Dinda. Há modelos discretos que podem ficar sobre os móveis para ativar a energia e trazer prosperidade. Mas certos detalhes precisam ser observados. “Não pode ser qualquer uma”, diz Ricardo Dávila, que fabrica fontes de pedra. “Se a água cair enrolada nas pedras, as coisas não vão fluir”, diz ele, que vende, em média 30 fontes por mês. Custam entre R$ 120 e R$ 320. A ceramista Marta Vaz, 40 anos, atribui a uma pequena fonte que esculpiu há dois anos uma ajuda na cura de um distúrbio que lhe deixou a pele, os olhos e a boca ressecados. “Água circulando renova o clima e a vibração da casa”, diz Marta, que produz modelos de R$ 40 a R$ 180.

Os astros também andam influindo na decoração. O mapa astral do dono pode ser o ponto de partida até para a planta da casa. De acordo com Clotilde Bassetto, estudiosa do tema, um capricorniano, por exemplo, precisa de um ambiente que lhe transmita solidez. As janelas não precisam ser muito grandes, nem os cômodos. Tons terrosos são bem-vindos. Assim ele se sentirá num refúgio seguro. “Quanto mais o ambiente for adequado à influência lunar da pessoa, melhor ela vai se sentir”, explica. E pensar que, no passado, bastava uma visita a uma loja de tecidos…