A textura, a maciez e a suavidade, o sabor amargo ou doce, o brilho, o formato, o ruído dos crocantes na boca ou até do desembrulhar do papel de um bombom: essas são as razões imediatas para ceder à tentação de um chocolate. Mas há razões mais profundas para mergulhar numa caixa de bombons do que as que a gula reconhece. Uma pesquisa encomendada por um fabricante de chocolates, a empresa argentina Arcor, instalada no Brasil há cerca de um ano, mostra que há uma curiosa variedade de relações com a guloseima e quatro perfis básicos de consumidor (leia quadro). “Atribuem a ele significados lúdicos, amorosos, de celebração ou de gratificação”, informa Célia Ribeiro de Aguiar, gerente de serviços de marketing da empresa. Assim como fumantes, existem consumidores fiéis a uma só marca, mas quase não há rejeição. “Os que não consomem têm uma razão racional para isso, como dietas e intolerância alimentar”, afirma Célia. Não por acaso, o produto é a 11ª. categoria mais rentável nos supermercados.

As mulheres são especialmente vulneráveis ao seu apelo. Elas preferem os arredondados e pequenos. Iludem a si próprias convencendo-se de que uma caixa inteira, ingerida em pequenas, doses, faz menos estrago à silhueta do que uma imensa barra comida de uma só vez. Os homens, segundo a pesquisa, são atraídos pela quantidade das barras grandes. O chocolate é também encarado como um prêmio. A universitária Renata Lopes Costa, 21 anos, por exemplo, saboreia bombons depois de um dia na faculdade. “É a hora do sossego. Penso: Agora mereço um chocolate”, explica ela. Pode despertar nostalgia. A advogada Maria Laura Trivelin, 35 anos, sente gosto de infância no chocolate. “Me faziam comer porque eu não tomava leite. Hoje, como o dia inteiro, me tranquiliza. Levo na bolsa e sempre tenho na gaveta”, confessa.

Há um tipo de consumidor que gosta de compartilhar seu prazer com os amigos e que considera indispensável oferecer às visitas griffes indiscutíveis. (ainda que um quilo de bombons Godiva, sem embalagem, por exemplo, chegue a custar R$ 193). Chocolate também serve para marcar grandes datas. A socialite Antônia Mayrink Veiga Freiring encomendou pequenas imagens de Nossa Senhora das Graças de chocolate branco, para dar aos convidados à primeira comunhão da filha. Alguns exigem uma certa pompa para desfrutar como se deve. Para o estilista Clodovil, por exemplo, chocolate combina com veludos e brocados e não com lycra e algodão. “Chocolate não é para se comer na praia. Cada coisa em seu lugar, não é mesmo?”, defende ele.

Poder estranho – O tipo de consumidor mais folclórico é o chocólatra, comedor compulsivo, sujeito até a síndrome de abstinência. O banqueteiro Toninho Mariuti é daqueles que se levantam numa noite fria e saem de bermudas para satisfazer seu desejo. “Nesses momentos, compro qualquer um, até no jornaleiro da esquina”, relata. Ele define seus sentimentos: “Temos uma relação duradoura. É uma coisa animal. Um pequeno brigadeiro me deixa de quatro”, diz Mariuti, que não se importa de dividir uma caixa de champanhe, mas esconde os bombons. O jogador de basquete Oscar Schimidt também pertence à galeria dos dependentes. Seu consumo faz juz aos seus 2,05 m de altura e a seus 110 quilos. “Em todo canto da minha casa tem chocolate. Uma vez, quase morri de intoxicação. Foram 66 bombons de uma só vez”, conta ele. Sua esposa, Cristina, leva sempre um na bolsa. “Vai que ele precisa de um pouco mais de energia nos jogos’, justifica ela. Muitos outros e estranhos poderes já foram atribuídos ao chocolate. Para os astecas, a bebida vinda do paraíso trazia sabedoria, poder e virilidade. Para a medicina incipiente do século XVII, era um aliado contra a sífilis. Recentemente, cientistas já compararam seu efeito calmante sobre o organismo aos da maconha e até aos do orgasmo. Pelo menos, em um dos casos aconselha-se não trocar.

 

Perfil do consumidor

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Prático
Gosta de tamanhos grandes, em formatos quadrados ou retangulares, com adição de cereais. Encara o chocolate também como alimento

Chocolatra
Adota o chocolate em todas as possibilidades culinárias. Gosta de grandes quantidades e mantém o estoque em alta. Na falta, sai a qualquer hora para comprar.

Afetivo
Dedica-se aos tamnhos pequenos e com formatos arredondados, de preferência com recheios cremosos oi licor. É fiel à marca e consome o chocolate como um ritual ou como forma de gratificação.

Sofisticado
Utiliza chocolates finos e com griffe, em situações especiais, e para receber bem. É extremamente seletivo


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias