O fim do mundo também guarda surpresas agradáveis. Essa é a sensação de quem finalmente chega na Patagônia chilena, um lugar de beleza perturbadora. O esforço de chegar até lá é prontamente recompensado. São sete horas de avião de Santiago até Balmaceda. Depois, mais duas horas na estrada até Puerto Mont, de onde os visitantes zarpam em direção à região norte da Patagônia. De lá, são mais quatro horas navegando por labirintos de canais e fiordes driblando enormes blocos de gelo. Ávidos por conhecer as geleiras milenares da Patagônia, turistas do mundo inteiro enfrentam o cansaço da viagem para visitar o Parque Nacional Laguna de San Raphael. Reminiscência da era glacial ocorrida na Terra há mais de 20 mil anos, este paredão de gelo de 70 metros de altura por três mil metros de largura é uma visão fantástica. “Isto aqui é simplesmente alucinante. Nunca vi coisa igual na minha vida”, exclamava o espanhol Oscar Martinez.

Ao lado da mulher, Maria Eugênia Sanchez, Martinez não conseguia esconder o espanto ao assistir este verdadeiro espetáculo da natureza de dentro de um bote inflável. De tempos em tempos, pedaços de gelo se desprendem da geleira espatifando-se na superfície calma e tranqüila do lago. A placidez do ambiente é interrompida por um estrondo. O barulho lembra um trovão que ecoa a quilômetros de distância. Munidos de bóias, gorros, luvas e pesados casacos impermeáveis, os turistas ficam a 600 metros de distância dos enormes tempanos – como os chilenos chamam estes blocos de gelo. Apesar da grandio-sidade da geleira, os estudiosos e até mesmo os habitantes da região já perceberam o óbvio: o glaciar está encolhendo. A velocidade com que os blocos de gelo estão se desprendendo do paredão de gelo aumenta a cada ano chegando a 200 metros anuais. A Laguna de San Raphael, assim como a maioria dos glaciares da Patagônia, está sofrendo o efeito corrosivo do aquecimento global. O fim desta história pode ser triste: as geleiras podem estar fadadas ao degelo, até seu desaparecimento.

A região é frequentada por amantes do alpinismo e do treking, além de uma legião de pescadores amadores que via-ja para a Patagônia Aisén atrás de trutas e salmões selvagens. É no canal de Puyuhuapi onde se encontra um dos mais disputados centros de pesca com mosca do mundo. Esta modalidade de pescaria não tem impacto ecológico e o praticante se orgulha de devolver ao mar as trutas e salmões fisgados. O pescador tem apenas dez segundos para fazer uma foto antes que o peixe seja devolvido ao seu hábitat natural.

O ponto de encontro desses turistas aventureiros e pescadores de fim de semana é o hotel Termas de Puyuhuapi. A filosofia do hotel, inaugurado em 1995 pelo patriarca da família Kossmann, chileno de ascendência alemã, é estar de bem com a natureza. É um cinco estrelas no meio do nada que já virou parada obrigatória para os visitantes da Patagônia chilena. Os pacotes de viagem variam de três a cinco noites e os preços de US$ 1.275 a US$ 1.515, por pessoa. “Não é um passeio barato, mas vale à pena. Estou me sentindo num castelo encantado”, comemorava a mineira Maria de Abreu Oliveira que viajou em companhia da filha Maria Tereza e do genro César Augusto para as Termas de Puyuhuapi.

Logo que chegaram, Maria evitou entrar nas piscinas das termas. O frio era intenso: cerca de 9ºC durante o dia. Só depois de se acostumar ao frio da região é que esta professora primária aposentada se convenceu de que poderia tomar banho de piscina ao ar livre e não virar pinguim. A temperatura das piscinas termais variam de 37ºC a 40ºC e são aquecidas naturalmente com água do vulcão Melimoyu. Demora-se em média entre 15 e 30 minutos para começar a sentir frio ao ar livre – tempo suficiente para chegar nos quartos e trocar de roupa antes de congelar ou pegar um resfriado. O que não deve ser nada agradável.

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