Mesmo que ainda não ousem prever quando o vírus da Aids será finalmente derrotado pela ciência, os pesquisadores que se debruçam sobre o HIV em todo o mundo concordam que o cerco a ele caminha satisfatoriamente. Paralelamente desenvolvem-se duas linhas mestras de pesquisa: a que testa possíveis vacinas contra o HIV e outra que desenvolve, a cada ano, novas drogas para o tratamento dos soropositivos, como a Agenerase, um inibidor de protease que acaba de ser lançado no Brasil pela Glaxo e funciona como alternativa aos pacientes que criaram resistência a outros inibidores. Outra novidade diz respeito a uma recente pesquisa que o infectologista americano John Bartlett veio apresentar na III Conferência Brasil Johns Hop-kins University em HIV/Aids, realizada na semana passada no Hotel Intercontinental, no Rio de Janeiro.

Bartlett investigou os resultados da utilização de uma combinação de AZT com mais um medicamento, o 3TC, imediatamente após ou no máximo até duas horas depois de haver um contato direto com o vírus HIV. O resultado da pesquisa, realizada apenas entre profissionais de saúde que se encontraram acidentalmente, é animador: as drogas, tomadas durante um mês, preveniram a instalação do HIV no organismo, reduzindo em até 80% os riscos de infecção. “Ainda não há dados sobre a eficácia da terapia pós-contato sexual, mas acredito que deva ser parecida”, afirmou Bartlett a ISTOÉ.

Na comunidade médica, há quem tema que a divulgação da existência de uma “pílula do dia seguinte”, como o tratamento mensal já foi batizado, crie um clima de euforia e encoraje as pessoas a manterem comportamentos de risco. Bartlett, no entanto, acha que não há motivo para a preocupação. “Não é o caso. As pessoas precisam saber que o tratamento não é fácil, os efeitos colaterais, como náusea, vômitos, dores de cabeça e fadiga, são muito pesados e as drogas também custam muito caro”, explica. Por enquanto, a melhor forma de evitar o contágio pelo HIV continua sendo a prevenção, apesar de Bartlett reconhecer que as campanhas recentes não são tão eficientes como o esperado. “Está claro que não somos muito bons em prevenção quando são necessárias mudanças de comportamento”, afirmou.

Prova disso são dados colhidos recentemente por uma pesquisa coordenada pelo infectologista Mauro Schechter, da UFRJ. O Projeto Praça Onze acompanha 750 homossexuais há quatro anos, oferecendo informações completas sobre o HIV, formas de contágio e prevenção. Assim mesmo, na última aferição, 25% dos participantes relataram ter feito sexo anal receptivo desprotegido nos últimos seis meses. “Todas as intervenções comportamentais são muito difíceis. Por isso, em última análise, só uma vacina poderá conter o ritmo de contaminação”, afirmou Schechter. Muitas fórmulas vêm sendo testadas, mas ainda não há nada concreto. A dificuldade está em dois fatores: a enorme capacidade de mutação do vírus e o fato de a infecção natural pelo HIV não produzir imunidade. “Tem sido muito difícil, e a expectativa é que continue a ser difícil”, disse Bartlett.


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