As informações que estão em sua carteira de documentos valem, no mundo real, apenas para você se identificar. Mas para gigantes multinacionais como a Microsoft ou a Novell seu conteúdo é uma mina de ouro no mundo virtual da Internet. É que elas e outras concorrentes, que disputam o cada vez mais rico filão do comércio eletrônico, estão competindo para possuir esses dados. Todas elas querem assumir o papel de intermediárias na compra e venda de produtos, de uma forma que guarda alguma semelhança com o que fazem as administradoras de cartões de crédito nas lojas de rua. Mas, diferente do mundo real, na Internet o grande obstáculo para que isso funcione ainda é a confiança em quem vai garantir a lisura da transação.
Na mesma semana em que a Novell fez o lançamento mundial de seu Digitalme (digitalme.com), a Microsoft contra-atacou com o E-Wallet (passport.com). Os dois produtos têm, em comum, a mesma proposta: facilitar a vida do usuário que faz compras pela Internet. São softwares que guardam nos arquivos dessas empresas dados como nome, endereço, número de cartão de crédito e senhas de acesso às informações. Bem como suas preferências de consumo, os gostos pessoais do comprador – esses programas deverão estar disponíveis em português para o usuário brasileiro em janeiro do ano que vem. Assim, toda vez que o internauta encontrar alguma coisa que queira comprar, não precisará repetir o cansativo processo de preencher formulários de informações pessoais. Basta um clique para fechar o negócio. Parece bom, não é? Mas o que ganham essas empresas, já que esses softwares são gratuitos? O lucro virá das taxas de intermediação que elas irão cobrar dos vendedores. “Alguém precisa garantir que essas informações são fidedignas”, explica Eric Schmidt, presidente mundial da Novell. Acontece que, diferentemente das operações tradicionais com cartão, o comércio eletrônico não está regulamentado. Não existe ainda nenhuma lei que proteja os direitos do consumidor nessas transações.

Segundo a Federal Trade Comission (FTC, órgão do governo americano que regula o comércio no país), pouquíssimas páginas da Internet informam hoje o que fazem com os dados pessoais que coletam de seus usuários. Raras são as que dão a opção de permitir ou não que eles sejam repassados a terceiros. Não é caso do Digitalme nem do E-Wallet, já que os dois nascem com o aval do TRUSTe (organização independente e sem fins lucrativos que dá certas garantias ao usuário lá nos EUA). Mas, mesmo assim, as duas empresas não negam a necessidade de alguma regra nessa área. A questão agora é saber quem vai defini-la. Pressionada pela FTC, a indústria de informática americana está correndo contra o relógio para alcançar uma auto-regulamentação. Ela sabe que, se não fizer isso, o governo fará – no Brasil não temos ainda nem mesmo um órgão semelhante ao TRUSTe. Até lá, o que vai valer é o resultado da prática – se funcionar sem problemas, muito bem; se não, todos ficam sabendo na hora.


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