“Não estamos aqui vendendo os produtos que já existem. Estamos vendendo o futuro, o que está em teste e estará no mercado em 2001, 2003”, disse Miguel Canalejo, presidente da Alcatel para a América Latina. Ele estava em Genebra na Telecom99, a maior das feiras de telecomunicações, encerrada há dez dias. Canalejo tem razão. As estrelas dessa vitrine suíça de alta tecnologia foram o celular e a Internet. As 220 mil pessoas que passaram pelos dois imensos pavilhões da exposição puderam ver o que dez entre dez fabricantes de equipamentos de telecomunicações e de produtos eletrônicos preparam para o mercado: celulares com acesso à Web, telefones que trocaram as teclas por monitores de cristal líquido sensíveis ao toque, pranchetas eletrônicas para carregar a tevê digital embaixo do braço, monitores de alta definição para fazer videoconferências dentro do carro, aparelhos de fax que recebem correio-eletrônico. O cenário desenhado pela indústria baseia-se numa gradativa metamorfose dos celulares. Eles vão deixar de ser prioritariamente usados para comunicação móvel de voz para se tornarem videofones e apêndices do computador. As empresas apostam que a vida útil de um celular é de dois anos e que, no final desse período, os usuários irão adquirir modelos mais avançados. O final desse segmento da cadeia de consumo termina com o celular de terceira geração, ou simplesmente 3G substituindo o PC na maioria das tarefas em que ele é hoje empregado.

Para esse futuro se concretizar, a capacidade de transmissão de dados da telefonia móvel terá que sofrer um aumento exponencial. Na Europa, esse movimento já começou. Foram lançados este mês na Finlândia (leia na página 68) os primeiros aparelhos dotados da tecnologia Wap (do inglês, protocolo de aplicações sem fio), que permite movimentar a conta corrente ou fazer uma reserva de passagem aérea direto no visor do celular. A Nokia lança esse produto no Brasil até o final de março de 2000, garante Edward Fernandez, presidente da empresa no País. “Estamos nesse momento mostrando a nova tecnologia às operadoras de celular, empresas e bancos, que terão que adaptar seus sites para oferecer produtos e serviços via Wap.” Ao contrário da gigante finlandesa que investe em comunicadores polivalentes, algumas empresas apostam que muitos usuários optarão por permanecer com uma agenda eletrônica inteligente que se comunique com o celular sem a necessidade de fios ou conectores. A Ericsson lançou na Suécia um organizador pessoal que faz exatamente isso. Já a francesa Alcatel projetou uma carteira eletrônica com leitor de smart cards através da qual o consumidor poderá recarregar o saldo dos seus cartões acessando via celular a conta corrente no banco.

O segundo passo na caminhada frenética rumo ao celular-PC é a tecnologia GPRS (serviço geral de rádio por pacotes), que elevará a velocidade de transmissão de dados sem fio dos atuais (e ridículos) 9,6 kbits por segundo (menos que um modem 14.400) para 57,6 kbits, padrão dos melhores modems atuais. Nesse cenário, que estará concretizado na Europa e nos EUA em 2000, será cada vez mais comum ver gente carregando Web-pranchetas de US$ 1.500 debaixo do braço para acessar a rede ou assistir à tevê digital. Mas quem será o maluco de andar com um equipamento sofisticado desses no meio da “segura” realidade brasileira?

A última parada nesse roteiro tecnológico é o W-CDMA, o novo padrão de telefonia móvel que aposentará os atuais padrões analógicos, TDMA e CDMA (bem como o europeu GSM). O W-CDMA acelerará os celulares de terceira geração a velocidade de até 384 kbits dentro de um carro em movimento, ou até 2 Mbits dentro de casa ou no escritório. Quando estiver disponível no Brasil, você poderá decidir qual filme quer ver no cinema assistindo aos vários trailers dos filmes em cartaz sem, por exemplo, sair do banco de trás do táxi. Ou ainda escolher seu roteiro de viagem vendo vídeos com paisagens de lugares exóticos colocados na rede pelas agências de turismo. Os primeiros testes-piloto dos celulares 3G já ocorrem no Japão, onde a NTT DoCoMo, principal operadora móvel do país, promete inaugurar o serviço comercialmente em 2001. No Brasil, a última fronteira da comunicação só deve começar a ser desbravada em 2003, quando o número de celulares inteligentes em todo o mundo terá ultrapassado a marca dos 500 milhões, segundo o Wap Forum, órgão que reúne as mais de mil empresas que abraçaram o padrão Wap. 2003 também será o ano da próxima Telecom em Genebra, onde os expositores mostrarão protótipos para 2010.

A NTT pensa em telas de plástico transparente e flexível para recepção e exibição sem fio do texto de jornais, que serão lidos, por exemplo, no banco do parque. A Alcatel sonha com folhas eletrônicas presas com ímãs na porta da geladeira e onde se escreve a lista do supermercado. Saindo do trabalho, usa-se o celular para ligar para a folha eletrônica e copiar a lista. Depois, é só ir às compras.

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