O comando da CPI do Narcotráfico desembarca nesta segunda-feira 25 em São Luís em busca da conexão local de um sindicato nacional do crime, que atua em 14 Estados e teria como chefe no Maranhão o deputado estadual José Gerardo de Abreu (PPB). Os parlamentares da comissão vão procurar provas capazes de confirmar a denúncia de que Gerardo dividia com o ex-deputado acreano Hildebrando Pascoal, o deputado alagoano Augusto Farias (PPB) e o advogado paulista William Sozza o comando de uma quadrilha que atua em roubos de cargas e carretas, tráfico de drogas e armas e assassinatos por encomenda. A CPI encontrará um Estado assustado com a revelação de que há juízes, políticos, empresários e policiais civis e militares envolvidos com o crime organizado. Mesmo com toda essa força, a bandidagem está acuada. Além da apuração de uma CPI estadual que já descobriu histórias escabrosas, suficientes para pedir a cassação do mandato de José Gerardo, está em curso uma investigação em conjunto das polícias federal e estadual. São batidas diárias em fazendas, garagens, oficinas e depósitos de armas clandestinas. “É agora ou nunca. Ou derrubamos essa quadrilha ou apagamos a luz e vamos embora”, aposta o delegado Reinaldo Barbosa, responsável pelo combate ao roubo de carretas e cargas no Maranhão. A reação do crime organizado mostra que eles estão amedrontados e que a batalha está longe de ser vencida.

O deputado estadual Julião Amin (PDT) pediu proteção policial depois de denunciar que sofreu ameaças de José Gerardo. Até a governadora Roseana Sarney entrou na mira da quadrilha. Na quarta-feira 20, recebeu uma nova ameaça de morte num telefonema anônimo. Avisou ao relator da CPI, deputado Moroni Torgan (PFL-CE), que a aconselhou a reforçar a segurança e tomar cuidados como vistoriar carros e jatinhos antes de embarcar em suas viagens pelo Estado. A quadrilha já mostrou que comete crimes ousados. Em maio de 1997, o delegado Stênio Mendonça, que estava no encalço do bando, foi assassinado em plena luz do dia numa avenida à beira-mar. Além de eliminar desafetos, a conexão maranhense é ousada também em outras práticas criminosas.

Metida em roubo de cargas, tráfico de drogas e até em assalto a bancos, chegava a trabalhar com metas de produtividade. Impunha uma cota mínima a ser cumprida: 100 carretas roubadas por ano. Os registros policiais mostram que a cada mês no mínimo seis carretas eram roubadas no Estado. A ofensiva policial está surtindo efeito. Há 20 dias não se registra um único roubo. Na tarde da segunda-feira 18, ISTOÉ acompanhou seis batidas policiais no município de Santa Inês, curral eleitoral de José Gerardo. Foram encontrados três carros roubados, dois deles ainda com a chave na ignição. ISTOÉ esteve nas fazendas de Gerardo, em Santa Inês, e da família Farias, em Nova Olinda, ambas estrategicamente situadas na rota do roubo de cargas. Na fazenda de Gerardo, além de uma pista de pouso clandestina, foram encontrados seis ônibus, um Gol capotado e uma carreta placa HOM-7219 que a polícia suspeita que tenha sido roubada. As duas propriedades estão sendo tocadas por novos empregados, os antigos foram demitidos há quatro meses. Funcionário da fazenda Flor de Santana, Altamiro Cardoso da Silva conta que o patrão Rogério Farias, irmão de Augusto, costuma usar a pista de pouso do prefeito de Nova Olinda, William Amorim – um dos dez prefeitos maranhenses que estão sendo investigados pela CPI estadual.

As apurações da polícia e das CPIs mostram outros vínculos entre os Farias e o prefeito de Nova Olinda. A polícia apreendeu na fazenda de Amorim um trator Massey Fergusson roubado. O prefeito se defende dizendo que o comprou por R$ 35 mil de Epitácio Farias, antigo capataz da propriedade dos Farias. Os parlamentares que estão investigando o crime organizado descobriram que William Amorim e outros políticos maranhenses também costumam frequentar a Flor de Santana. Na quinta-feira 21, em depoimento à CPI do Narcotráfico, Rogério Farias, depois de negar, acabou confessando que hospedava políticos na propriedade da família no Maranhão. “Está claro que essas fazendas participam de alguma maneira do esquema dessa organização criminosa. Falta apurar se os proprietários também fazem parte desses negócios”, avalia o relator Moroni Torgan.


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