As advertências do general Harold Bedoya, ex-ministro da Defesa da Colômbia, de que as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) já estão utilizando as vias fluviais comuns aos dois países para ampliar seus domínios e dar proteção às operações do narcotráfico e contrabando de armas na região, conforme publicou ISTOÉ em sua última edição, repercutiram no Brasil e receberam importante suporte. O secretário-assistente de Estado do governo americano e chefe do birô internacio-nal de combate ao narcotráfico, Rand Beers, afirmou em depoimento ao Senado dos EUA que o crime organizado brasileiro, que atua no eixo Rio–São Paulo, está sendo abastecido de drogas (cocaína e heroína) por dois novos fornecedores: as Farc e o ELN (Exército de Libertação Nacional), que se aliaram aos cartéis colombianos. Beers não precisou o volume de drogas envolvido nas operações, mas adiantou que os serviços de inteligência americanos já haviam detectado que grande parte da droga enviada ao Brasil está sendo reexportada para os Estados Unidos e a Europa.

A denúncia, porém, ainda não chegou ao Brasil, de acordo com o secretário Nacional Antidrogas, Walter Maie-rovith. O que o Brasil teria contra as Farc seriam documentos apreendidos em um avião carregado com armas e munições, capturado pela Polícia Federal em agosto no aeroporto de Oriximiná, no Pará. “A cooperação entre a guerrilha e os narcotraficantes é nítida”, afirma Maierovith. Ele comenta que os guerrilheiros dão proteção aos laboratórios de refino de coca e às pistas dos traficantes, recebendo em troca armas. Para a PF, o avião, que fez um pouso forçado no Pará, provavelmente traria, em seu vôo de volta, cocaína para o Brasil. A PF encontrou também documentos ligando o avião a um líder guerrilheiro chamado El Negro Acácio.

Segundo Beers, além de dar proteção permanente às plantações de coca e aos laboratórios de refino montados em plena selva, os guerrilheiros “transportam drogas e produtos químicos (éter e acetona) e já operam laborató-rios próprios ao mesmo tempo que obrigam os camponeses, que vivem nas áreas sob seu domínio, a trocarem as lavouras de subsistência pelo plantio de coca”. Ele revelou ainda ao Senado que as Farc e o ELN “estão recebendo cocaína pura em pagamento por serviços prestados ao narcotráfico e a revendem às máfias brasileiras. Trocam drogas por armas e despacham a cocaína para o Brasil e a Venezuela”.

As denúncias dos americanos não surpreenderam o representante das Farc no Brasil, Oliverio Medina. Ele afirmou a ISTOÉ que “os americanos querem o fracasso das negociações de paz que estão em curso, pois só sabem fazer a guerra. Estão com medo de um acordo permanente que leve as Farc a participar efetivamente da mudança do regime político colombiano”. Medina descarta qualquer risco de vio-lação da fronteira do Brasil. “O Exército brasileiro sabe disso. É uma política-chave das Farc não atuar nos países vizinhos”, afirmou. Sobre as denúncias feitas a ISTOÉ pelo genereal Bedoya, disse que “o povo colombiano nas urnas mostrou o que pensa deste senhor” (Bedoya foi um dos menos votados na eleição presidencial colombiana). O serviço de inteligência brasileira confirmou que está investigando a denúncia de recrutamento de mercenários brasileiros para combater as Farc.


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