Robert Capa encarnou como poucos a mitologia do aventureiro atrás das lentes de uma câmera Leica alemã. Até 1954, quando morreu numa explosão na Indochina, aos 41 anos, o judeu americano nascido na Hungria viveu perigosamente para registrar cinco grandes conflitos, inclusive a Segunda Guerra Mundial e seu sangrento dia D. Capa não se atinha apenas às atrocidades do front, mas à violência que atingia os civis. É dele o impressionante registro de uma jovem francesa, presumível amante de um militar alemão, que aparece de cabelos raspados, com uma criança no colo, acuada por uma multidão em festa pela libertação da França do nazismo. O flagrante está entre as 125 fotos que compõem a ótima mostra Modos de olhar: fotografias do acervo do Museum of Modern Art – New York, em cartaz no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo e que em junho aterrissa no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro. É a primeira vez que uma exposição do acervo de fotos do MoMa, desta magnitude, aporta no Brasil.

Tirada de um total de cerca de 30 mil fotografias – nas quais se incluem trabalhos de brasileiros como Sebastião Salgado, Vik Muniz, Thomas Farkas, Valdir Cruz e Mário Cravo Neto, não presentes na exposição brasileira –, a mostra privilegia a produção americana, numa espécie de retrospectiva cronológica da história da fotografia, a partir de seus desconhecidos pioneiros, ou nem tão desconhecidos assim como o talentoso retratista francês Félix Nadar. Da metade do século, surpreendem obras dos americanos Arnold Newman e Harold E. Edgerton. Destacam-se ainda grandes mestres como o francês Henri Cartier-Bresson, criador do fotojornalismo, o russo Alexander Rodchenko, o suíço Robert Frank e o americano Richard Avedon. Apesar dos nomes ilustres, o mais curioso é viajar no tempo com os primeiros cliques, quando a fotografia ainda trazia uma evidente influência da pintura, e os primeiros profissionais pareciam fascinados pelos efeitos de luz nas paisagens. Não por acaso, o pioneiro inglês, o retratista David Octavius Hill, foi artista plástico antes de se bandear para aquela que seria uma das mais flexíveis formas de arte.