O enigma Obama

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O Planalto agradece a boa vontade de Barack Obama, que convidou Dilma para uma honrosa visita de Estado no segundo semestre. Até agora a Casa Branca não mostrou o que pretende com tanta gentileza, levando o governo brasileiro a aguardar pela visita do vice Joe Biden, no fim do mês, e do secretário de Estado John Kerry, mais tarde, para receber sinais mais claros. Embora não tenha apoiado o candidato brasileiro à direção-geral da OMC, a Casa Branca fez o possível para não atrapalhar a eleição de Roberto Azevêdo. Países latino-americanos, que costumam ser aliados automáticos dos EUA, não foram pressionados a votar no concorrente mexicano, assegurando uma ampla vantagem para Azevêdo no continente.

Ela mandou brigar
Informada de que havia sinais de corpo mole na bancada do governo na votação da Medida Provisória dos Portos, Dilma decidiu reagir. Convocou Michel Temer, Renan Calheiros e Henrique Alves para uma conversa na qual avisou que não aceitaria recuos nem acordos capazes de desfigurar pontos essenciais do projeto.

O dólar não é pauta
A discussão sobre câmbio não comove Dilma nem Guido Mantega. O Planalto acredita que até setembro a inflação seguirá perto de 6% e o crescimento ficará abaixo de 3%. Depois disso, acredita o governo, a economia deslanchará.

TCU faz segredo
Habituados a auditar tantas esferas do Estado, ministros do Tribunal de Contas da União aderiram à moda de só exigir transparência da porta para fora. Fazendo segredo sobre gastos com viagens, diárias e salários, enquadraram essas informações como gastos pessoais.

Charge

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Advocacia em família
Novo favorito para a vaga de Carlos Ayres Brito no Supremo Tribunal Federal, o advogado paranaense Luiz Edson Fachin atua com desenvoltura no tribunal de justiça estadual onde sua esposa, Rosana Amara Girardi Fachin, é desembargadora.

Caso resolvido
Apesar do bate-boca da semana passada, a importação de médicos estrangeiros é caso resolvido pelo Planalto. Falta apenas acertar detalhes operacionais e questões de natureza técnica. A decisão é trazer não só cubanos, mas também espanhóis, portugueses, etc.

O que estão fazendo aqui?
A presença do PSB em reuniões fechadas da bancada do governo no Congresso já causa constrangimentos. Líderes de partidos alinhados lembram que o PSD acompanha todas as articulações e os acertos e que, de posse de informações privilegiadas, tem munição mais calibrada para combater o governo – como ocorreu na Medida Provisória dos Portos.

Protestos em série
O cancelamento de subsídios contra a seca a 21 mil produtores de cana do Nordeste, aliados naturais de Eduardo Campos, ameaça transformar uma visita de Dilma Rousseff à região num inferno desde sua chegada.

Luz no túnel boliviano
La Paz e Brasília estão perto de firmar um acordo a respeito dos 12 corintianos presos em Oruro. A proposta inclui boa vontade entre as partes. Consiste em liberar mais rapidamente quem puder demonstrar – sem sombra de dúvidas – que não teve nem poderia ter tido participação na morte daquele adolescente durante um jogo da Libertadores. A libertação dos demais viria numa segunda fase. Ciente de que o ambiente de indignação dos familiares brasileiros é comparável ao dos cidadãos bolivianos, Brasília fará o possível, até o fim, para dar um tratamento inteiramente jurídico ao caso.

Jogo de cena partidário
O governo está convencido de que tem votos para ganhar, em plenário, o projeto que cria regras para a formação de novos partidos e que foi paralisado por Gilmar Mendes. A tese é que, longe dos holofotes, legendas que correm alto risco de hemorragia com mudanças em véspera de eleição apoiarão o projeto. No cálculo inclui-se até uma fatia do PSDB.

Toma lá dá cá

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Alberto Cantalice, vice-presidente do PT, fala do abaixo-assinado pelo financiamento público de campanhas.
 
ISTOÉ
– Por que não discutir uma reforma política no Congresso?
Alberto Cantalice – Lá não há consenso. Em dez dias já conseguimos 100 mil assinaturas. Queremos chegar a 1,5 milhão em fevereiro de 2014.

ISTOÉ – O abaixo-assinado também pede cotas para mulheres e lista fechada de candidatos. Por que?
Alberto Cantalice – O texto nasceu de uma discussão dos militantes. O presidente Lula foi o primeiro a assinar. Com 1,6 milhão de filiados, não será difícil chegar à meta.

ISTOÉ – Como está a campanha?
Alberto Cantalice – Nos municípios, os vereadores estão mobilizados. Vamos levar um caminhão de papel no Congresso e pressionar por uma tramitação rápida.

Retrato falado

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“O orçamento impositivo é esperado por todos e vamos correr para que ele entre em vigor em 2014. Ou isso acontece, ou vamos desperdiçar metade do nosso mandato sem transformar essa ideia em lei”

A possibilidade de conquistar uma bandeira para o ano eleitoral de 2014 engordou as articulações para criar o orçamento impositivo, que obriga o Executivo a liberar os recursos previstos nas emendas parlamentares para obras nos municípios. O relator da matéria, Edio Lopes (PMDB-RR), conseguiu o aval dos colegas para aprovar o texto na comissão especial nos próximos dias e garantir sua execução em prazo eleitoralmente útil.

Rápidas
* Toda vez que recebe estimativas sobre elevação da sonegação fiscal, a equipe econômica suspira ao lembrar do fim da CPMF, que permitia rastrear grandes gastos. Não há hipótese de a CPMF retornar.

* Determinados setores da indústria fizeram chegar ao governo a queixa de que a alta contínua dos salários começa a afetar o desempenho. No setor de duas rodas, por exemplo, o custo da mão de obra era de 15%, agora é 30%.

* A campanha petista de 2014, no Rio, promete. Lindenberg Farias enfrentará o aliado Pezão, afilhado de Sérgio Cabral, pelo governo de Estado. Já Benedita da Silva e Alessandro Molon disputam a vaga de senador para 2014.

* O desmanche do departamento médico do Senado foi tão completo que já beira a temeridade. Não sobrou nenhum desfibrilador cardíaco num ambiente no qual só quem usa tintura não tem cabelos brancos.

Renan debate

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Convencido de que há cada vez mais parlamentares interessados em defender as prerrogativas do Congresso, Renan Calheiros convocou uma reunião de líderes para discutir o tema. O ponto de partida lembra uma ideia de um projeto do deputado Marco Maia (PT-RS), que não permite ao STF suspender, por liminar, a tramitação de um projeto no Congresso.

O próximo passo
Depois do PSD de Kassab e Afif, Dilma vai atrás do PP de Ciro Nogueira. A presidenta quer um acordo federal. Recebe os minutos do Partido na tevê e, em troca, faz campanha para  candidatos do PP a governo de Estado. Assim, Dilma pode apoiar a senadora Ana Amélia, candidata ao governo gaúcho, sem dar exclusividade ao petista Tarso Genro. Em compensação, a senadora dará exclusividade a Dilma, sem fazer campanha por Eduardo Campos nem por Aécio.

por Paulo Moreira Leite
Colaboraram: Claudio Dantas, Izabelle Torres e Josie Jerônimo
Fotos: Pete Souza/Official White House; Darlei Marinho/Parceiro/Ag. O Globo; Adriano Machado/AG. ISTOé