João Havelange, que completa 97 anos na quarta-feira 8, foi um dos presidentes que por mais tempo comandou a Federação Internacional de Futebol (Fifa). Durante 24 anos, entre 1974 e 1998, dirigiu a entidade, sediada na Suíça, que tem mais membros do que a ONU – 209 contra 193. Mas tantas glórias não evitaram a decadência: o ex-todo-poderoso do futebol mundial acabou abandonando a federação pela porta dos fundos no dia 18 de abril. O cartola pediu o boné por escrito, sem alarde. Renunciou à presidência honorária para evitar sanções do Comitê de Ética da federação, que o investigava por ter recebido propina da empresa suíça de marketing esportivo ISL. Junto com o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira, Havelange teria embolsado R$ 45 milhões indevidamente. Por meio de acordo, em 2004, a dupla devolveu R$ 5,4 milhões. Sem punições à altura dos delitos praticados, a Fifa vai perpetuando os desvios de ética. Chegará ao seu 63º Congresso no fim deste mês, nas Ilhas Maurício, no Oceano Índico, tendo de dar solução às denúncias de compra de votos por parte do Catar para sediar a Copa de 2022.

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NA SURDINA
Ex-mandachuva do futebol mundial, Havelange
pediupara sair por escrito e sem fazer alarde

Os autores do esquema, entretanto, continuam levando uma vida milionária. Ao atender a ligação da reportagem de ISTOÉ na quarta-feira 1º, enquanto assistia ao jogo entre Barcelona e Bayern de Munique após almoço no Country Club do Rio de Janeiro, um dos mais seletivos e caros do País, Havelange pediu desculpas e disse que não daria declarações no feriado. No dia seguinte, não atendeu os telefonemas. Atualmente, ele vive com a mulher, Anna Maria, em Ipanema, na zona sul carioca. Tem a ajuda de cuidadores e aulas de hidroginástica. Os desvios praticados na década de 1990, quando os dirigentes receberam propina para beneficiar o grupo suíço na venda de direitos de transmissão das copas de 2002 (Japão/Coreia do Sul) e 2006 (Alemanha), viraram passado. Mas o esquema continua: em janeiro, a revista francesa “France Football” denunciou o pagamento de “milhões de dólares” pelo Catar. O caso precisa ser solucionado pelo atual presidente da Fifa, Joseph Blatter, cria de Havelange.

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“Esse escândalo da ISL deveria servir de exemplo para as reformas”, diz Eduardo Carlezzo, advogado especialista em direito esportivo. De fato, na época de Havelange, sequer havia Código de Ética na Fifa, que só instituiu um em 2004. Para o presidente do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo, Gustavo Delbin, a entidade já tem instrumentos suficientes para punir, o que falta é rigor. “O esporte movimenta cifras cada vez mais altas. Mesmo sendo negócios privados, é preciso transparência e ética”, defende. 

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