A moda dramática, ácida e exuberante sempre foi a assinatura do estilista John Galliano. Tido como um dos mais criativos e originais designers do século XX, esse gênio na arte de transformar desfiles em verdadeiros espetáculos cinematográficos, com direito a efeitos especiais, trapezistas, lutas de espadas e até freiras sadomasoquistas, sempre fez sucesso, assim como seu espírito polêmico e provocador. Em 2011, porém, o estilista passou completamente dos limites em um vídeo no qual faz declarações antissemitas, como ?eu adoro Hitler?. Perdeu a direção criativa da Maison Dior e ganhou uma mancha indelével na sua imagem. Declarado culpado de racismo pela Justiça francesa e obrigado a pagar uma multa de seis mil euros por seus insultos, Galliano estava num ostracismo de controvérsias até a semana passada, quando resolveu se aventurar em um novo terreno: o de professor-convidado da conceituada Parsons The New School for Design, em Nova York. Aos 52 anos, o designer nascido em Gibraltar, mas radicado na Inglaterra, irá ministrar um workshop chamado ?Show me Emotion? (em tradução livre, mostre-me emoção) para 20 alunos do último ano de bacharelado em moda. O objetivo, segundo a universidade, é ?envolver seus participantes, provocando o poder da emoção no contexto da prática da moda?.

chamada.jpg
DOIS MUNDOS
Modelo veste criação do estilista na semana de moda de Nova York: o universo
fashion o acolheu, mas longe de seus pares ele enfrenta resistências

NAZISTA-05-IE-2268.jpg

O simples anúncio do curso, porém, despertou outro tipo de emoção entre os estudantes, moradores de uma cidade onde os judeus têm grande importância política e econômica. Muitos alunos, revoltados com a notícia, deram início a uma petição online contra o estilista que já conta com centenas de assinaturas. ?Contratar alguém que fez comentários horríveis mostra que a escola valoriza mais John Galliano do que os seus alunos judeus. Nós não queremos que o dinheiro de nossa matrícula vá para esse tipo de pessoa; sentimos que levamos um tapa na cara da instituição?, diz um trecho da petição. A universidade, por sua vez, ainda não se manifestou sobre o protesto e até agora continua firme em sua escolha. Em nota, declarou: ?Nos últimos dois anos Galliano tem demonstrado uma séria intenção de se redimir por seus atos. Ele é um mestre da alfaiataria e nossos alunos têm muito a aprender com ele.?

É inegável que o designer possui talento de sobra e um currículo mais do que gabaritado para o posto. Formado pela prestigiada Saint Martin?s School of Art, em Londres, ele foi diretor criativo da Givenchy entre 1995 e 1996, quando foi chamado para assumir a Maison Dior. Nos 15 anos à frente da grife, fez um trabalho impressionante de revitalização da marca, que estava em crise na época de sua contratação. ?Acredito que a Parsons teve uma boa ideia e não vejo sentido nessa petição, pois o curso não é obrigatório?, diz Lorenzo Merlino, estilista e professor de design de moda da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). ?Os alunos que se sentem discriminados têm a possibilidade de não assistir às aulas. Galliano está pagando pelos seus atos, veio a público pedir desculpas e não há o por que não dar uma nova chance a um profissional tão talentoso.?

IEpag74e75Nazismo-2.jpg

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Os protestos no âmbito acadêmico não encontram eco no universo fashion. Em janeiro, o estilista dominicano Oscar de La Renta resolveu dar uma chance a Galliano e o contratou como assistente da coleção outono/inverno da grife. O resultado dessa parceria foi visto durante a última semana de moda de Nova York, em fevereiro, quando algumas peças traziam um pouco do estilo dramático característico de Galliano. A crítica foi positiva e, ao que parece, o mundo da moda fez as pazes com o estilista.

Longe de seus pares, tudo indica, o caminho será mais demorado. A derrocada do gênio criativo começou em fevereiro de 2011, após a queixa de um casal que diz ter sido insultado por Galliano, embriagado, no bar La Perle, no bairro parisiense do Marais. Na semana seguinte, foi divulgado o vídeo com os comentários antissemitas. De novo, como ficou comprovado por exames, ele estava bêbado, o que não o livrou de duras críticas e de prestar contas à Justiça por seus atos. O estilista veio a público pedir desculpas, admitiu a internação para o tratamento do alcoolismo e foi considerado culpado de ?insultos públicos baseados na origem, afiliação religiosa, raça ou etnicidade?. Mas seu futuro é incerto. Atualmente, ele move um processo contra a LVMH, proprietária da Dior, alegando que a sua demissão foi improcedente. Saiu vitorioso em primeira instância, mas ainda há uma longa jornada para sua reabilitação pessoal. 


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias