O filósofo italiano Norberto ­Bobbio (1909-2004) afirmou que a mais importante revolução do século XX foi a da mulher. E são várias as maneiras de se verificar isso – até pelos sapatos. No livro “Do tornozelo para baixo: a história dos sapatos e como eles definem as mulheres” (Editora Casa da Palavra), a escritora americana Rachelle Bergstein mostra as lutas e conquistas femininas através do que elas calçaram ao longo das últimas décadas. Sua análise histórica e antropológica começa com as criações do estilista italiano Salvatore Ferragamo (1898-1960), passa pelo tênis, que deixou a academia e ganhou as ruas, até chegar aos tempos atuais em que sapatilhas podem ser chiques e revelar poder.

Ao longo das décadas, é interessante analisar o papel de um ícone feminino: o salto alto. Desde a antiguidade, a altura revelava importância. Ainda hoje, esse tipo de pensamento continua valendo – “é só observar as premiações e tapetes vermelhos”, aponta a autora. Ele perdeu terreno na Primeira e na Segunda Guerra Mundial (1914-1918 e 1939-1945), quando as mulheres tiveram de ocupar o vazio deixado pelos homens nas fábricas. No pós-guerra, surgiu, então, o salto agulha, num grito de feminilidade. Até recentemente, as executivas precisavam lançar mão da altura para impor sua presença no mundo corporativo. Era necessário, inclusive, para que a mulher no poder tivesse altura o suficiente para olhar nos olhos dos homens subordinados e traçar uma hierarquia também visual. Hoje, com um ambiente mais receptivo, elas podem dar mais peso ao conforto. “São poucas as mulheres que usam apenas um tipo de sapato atualmente. Nossas vidas são muito cheias e com demandas variadas para manter apenas um estilo”, disse a escritora à ISTOÉ.

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