A pequena cidade de Paraty, localizada entre o Rio de Janeiro e São Paulo, é um paraíso que abriga a maior reserva de Mata Atlântica da Serra do Mar. A aparente tranquilidade, no entanto, foi recentemente abalada por um atentado à bomba que atingiu as pessoas responsáveis por fiscalizar violações ao meio ambiente. Na noite de 9 de abril, um explosivo de alto poder de destruição foi detonado sobre o muro da casa de uma analista do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMbio), cujo nome é mantido em segredo por segurança. Ao defenderem a natureza, os fiscais contrariam os interesses dos que exploram a área. Os conflitos têm se tornado mais perigosos com o passar do tempo, transformando servidores em alvos de terrorismo. Em 2008 e 2012, outra funcionária, que embargou a construção de um resort, teve dois carros incendiados de forma criminosa.

TERROR-EM-PARATI-IE.jpg
PARAÍSO
Turista nada ao redor de uma das 63 ilhas que fazem parte
da Área de Proteção Ambiental de Cairuçu, em Paraty

Além de destruir o muro e o telhado da casa da analista, o atentado de abril causou danos psicológicos nos servidores. A funcionária que foi alvo da bomba já se afastou da Área de Proteção Ambiental (APA) de Cairuçu, em Paraty. Localizada por ISTOÉ, ela disse, em prantos, que não tem condições de falar sobre o incidente. A analista é casada e tem um filho. Por sorte, a família não estava em casa no momento da explosão. A APA é responsável pela conservação de uma reserva natural de 326 quilômetros quadrados, que mantém intactos 78% de Mata Atlântica nativa e abriga 63 ilhas paradisíacas. Ela também é berçário de espécies ameaçadas de extinção (confira quadro).

“A mentalidade aqui é: invade e constrói que depois vai ser difícil a Justiça mandar demolir”, explica a procuradora Monique Cheker, do Ministério Público Federal fluminense, que depende dos laudos dos analistas para processar quem comete crimes ambientais. As irregularidades combatidas pelo ICMbio são muitas. “Beiras de rio e topos de morros que não deveriam ser ocupados, mangue aterrado, restinga suprimida, floresta nativa devastada”, enumera a diretora da Fundação SOS Mata Atlântica, Márcia Hirota.

IEpag97e98_Sustentável-2.jpg
RETALIAÇÃO
Para o presidente do ICMbio, Roberto Vizentin, ataques são vingança contra autuações

O caso está sendo investigado pela Polícia Federal de Angra dos Reis (RJ). “Aguardamos o laudo do material colhido, mas posso adiantar que não era um artefato caseiro. Era uma bomba com potencial de destruição”, afirmou a delegada Gladys Miranda. Segundo o presidente do ICMbio, Roberto Vizentin, esse tipo de retaliação cria um clima de insegurança. “Suspeita-se que tenha a ver com as notificações e autuações dos ocupantes irregulares das ilhas”, diz ele. A APA emite cerca de dez autos de infração ambiental por ano. Em muitos casos, negócios milionários envolvendo compra e venda de ilhas são embargados pela Justiça graças à atuação dos ambientalistas.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Para o chefe da APA de Cairuçu, Eduardo Godoy, “a reação é sempre contra o servidor”, que cumpre o seu dever. Ele próprio já foi enxotado de uma ilha. “Fui fazer uma vistoria e soltaram um cachorro rottweiler. Tive que voltar para a água para não ser atacado”, diz. Enquanto a Polícia Federal não encontra os culpados pelo atentado, os fiscais continuam apreensivos. “Estamos monitorando a região com muito cuidado. Aqui todo mundo tem filho”, desabafou um deles.

01.jpg

Fotos: Pulsar Imagens; MARCELO LOUREIRO/AE


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias