Na última semana, depois de quase um ano de investigações sigilosas, a Polícia Federal mobilizou mais de 150 agentes e voltou a levar comunistas para a cadeia. Desta vez não com base em uma famigerada lei de segurança nacional, mas por violações ao código penal. Na segunda-feira 29, o secretário do Meio Ambiente do Rio Grande Sul, Carlos Fernando Niedersberg, líder do PCdoB no Estado e homem de confiança do governador Tarso Genro (PT), foi preso sob a acusação de ser um dos comandantes de uma máfia especializada na concessão fraudulenta de licenças ambientais para a construção de condomínios de luxo, autorizações para atuação de empresas no setor de mineração e lavagem de dinheiro. O grupo, segundo os delegados da PF, era composto por funcionários públicos e consultores ambientais e atuava não só no governo estadual como em diversas prefeituras. “Em pouco tempo, esse homem aparelhou a Secretaria do Meio Ambiente e a transformou em uma central de cobrança de propinas”, disse um dos delegados da PF que lideraram a chamada Operação Concutare. Eles não revelaram o total de recursos movimentados pela quadrilha, mas asseguram que cada autorização irregular custava cerca de R$ 70 mil. Agora, a PF deve iniciar uma nova investigação para saber qual o destino dado ao dinheiro obtido com a corrupção. Há suspeitas de que parte dele possa ter irrigado as finanças comunistas.

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NA CADEIA
O ex-secretário do Meio Ambiente do governo Tarso Genro (RS) Carlos Fernando Niedersberg
foi preso sob a acusação de chefiar a máfia da liberação de licenças

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A prisão de Niedersberg não foi um fato isolado para o PCdoB. Também na última semana, um outro líder do partido foi colocado na alça de mira da Polícia Federal. Trata-se de Daniel Nolasco, sócio da RCA Assessoria. A empresa é acusada de cometer fraudes para a obtenção de recursos do Programa Minha Casa Minha Vida. Segundo as investigações, a RCA interferia no sistema de seleção das construtoras escolhidas para participar do programa habitacional do governo e depois recebia parte dos superfaturamentos. Também nesse caso, a PF quer saber se o partido foi beneficiado com parte dos recursos obtidos de forma irregular. Tem chamado a atenção dos delegados e também de membros dos tribunais de contas a frequência com que integrantes do PCdoB são descobertos cometendo falcatruas, embora muitas vezes não apresentem sinais exteriores de riqueza. Há apenas dois anos, denúncias de desvio nos convênios do Ministério do Esporte com prefeituras e ONGs levaram à queda do ministro Orlando Silva. Investigação da Polícia Federal iniciada após denúncia publicada na ISTOÉ resultou ainda no indiciamento da ex-atleta e vereadora Karina Rodrigues, conhecida como Karina do Basquete, filiada ao partido, acusada de participar do desvio de R$ 27 milhões dos cofres do Ministério para a ONG Pra Frente Brasil. 

Nessa maré negativa, o PCdoB vive um processo inevitável de desidratação política. Chamuscada pelos recentes escândalos, a legenda comunista perdeu filiados de 2012 para 2013, caindo de 339,4 mil para 328,5 mil. Como um reflexo da crise, a bancada federal do partido na Câmara foi prejudicada. Os comunistas perderam o deputado Edson Pimenta (BA) para o recém-criado PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab. 

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