Agaúcha Vilanildes Pereira, 44 anos, é a primeira paciente no mundo a ser diagnosticada com capsulite adesiva de joelho, doença que causa dores intensas e emperra o funcionamento da articulação à medida que progride. São as mesmas características de um distúrbio que imobiliza os ombros, mas até recentemente não se sabia que a mesma alteração podia afetar também os joelhos. Por esse motivo, seus sintomas vinham sendo confundidos e tratados como lesões de menisco, de cartilagem, de ligamentos ou reumatismo. O achado pode prevenir cinco mil operações desnecessárias por ano no País, segundo estimativas iniciais. ?Muitos pacientes eram conduzidos para operações e não melhoravam porque o tratamento correto para essa enfermidade é clínico, com remédios para atenuar a dor e muita fisioterapia?, diz o ortopedista Matheus Falcão, integrante do time de pesquisadores brasileiros responsável pela descrição científica da doença.

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CASO ZERO
Vilanildes é a primeira paciente a receber o diagnóstico no mundo

O estudo que relata a descoberta, feito por um grupo multidisciplinar do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre (RS), foi divulgado na revista científica ?Skeletal Radiology?. No artigo, a equipe conta como os exames realizados em Vilanildes levaram à definição das características da doença. ?Trata-se de uma inflamação na cápsula que envolve e protege o joelho, tornando-a mais espessa e fibrosa?, afirma o radiologista Marcelo de Abreu, que esteve à frente do grupo que descreveu os sinais dessa patologia. ?Sua origem é autoimune, assim como ocorre com a artrite reumatoide?, complementa. Nesses casos, o próprio sistema de defesa do organismo ataca alguma estrutura do corpo por motivos ainda não elucidados.

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CIÊNCIA
Marcelo liderou o time de pesquisadores que identificou a enfermidade

Durante a investigação, Vilanildes fez um exame incomum para estudar os joelhos, o PET/CT. Em geral, realizado para buscar alterações cardíacas e no cérebro ou avaliar tumores, o teste fornece dados anatômicos, como tamanho e formato, e informações sobre o metabolismo das células. ?Vimos que a cápsula do joelho dela consumia mais glicose do que o normal. Isso ajudou a contextualizar as variações muito discretas que vínhamos notando havia mais de três anos em exames de imagem de pessoas com dor constante na articulação?, diz Abreu.

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A paciente Vilanildes será medicada com corticoides para diminuir a inflamação e a dor e fará fisioterapia. Os médicos também avaliarão outras terapias e acompanharão mais 40 pacientes. Entre outras coisas, eles querem saber se as dores no joelho melhoram em dois anos, como ocorre no ombro.

Fotos: Lucas Uebel, Jefferson Bernardes – Preview.com


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