No capitalismo do século XXI, as empresas que mudaram o mundo não foram apenas as que lançaram grandes produtos, mas principalmente as que tiveram boas ideias – e o Facebook está aí para provar que a afirmação é verdadeira. Numa escala muito menor, mas não menos ambiciosa, uma nova geração de empreendedores brasileiros está fazendo dinheiro ao seguir à risca essa máxima. Nascidos num mundo tecnológico, formados em boas universidades e globalmente conectados por redes sociais, esses jovens têm outro diferencial: sua vocação é internacional. Os paulistas Danilo Toledo, Edmar Miyake e Renato Tano, sócios-fundadores da Taqtile, criaram o aplicativo que transmitiu ao vivo, para smartphones e tablets, a posse do presidente americano Barack Obama, em janeiro. E isso a 7,5 mil quilômetros de distância de Washington. “Como já tínhamos feito um aplicativo para a convenção do Partido Democrata, a operadora AT&T nos procurou e ofereceu nosso trabalho ao comitê organizador da posse”, diz Tano.

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TAQTILE
Fundada por Danilo Toledo, 30 anos, Edmar Miyake, 30, e Renato Tano, 29, fez o aplicativo
oficial da posse de Barack Obama e tem como clientes a Universidade de Stanford,
Harley Davidson, NBA e NBC Universal. No ano passado, faturou R$ 10 milhões
Site: www.taqtile.com.br

A parceria com a gigante das telecomunicações começou no fim de 2009, quando a empresa contratada para fazer um aplicativo para a rede varejista Bed Bath & Beyond abandonou o projeto faltando pouco tempo para a implementação. O americano John Tomizuka, que morava no Brasil e conhecia o trabalho da Taqtile, indicou os brasileiros, que entregaram tudo em apenas um mês. Depois disso, as ofertas de trabalho não pararam de chegar. À época, a AT&T tinha o monopólio das vendas do iPhone. Na lógica da companhia, quanto mais aplicativos bons e funcionais fossem desenvolvidos, mais iPhones seriam vendidos e mais pacotes de dados para a internet seriam requisitados. Um ciclo lucrativo para a AT&T e para a Taqtile. “Nossos aplicativos ajudaram a AT&T a fomentar um mercado que era do interesse dela”, diz Toledo. Em pouco tempo, os garotos, que se conheceram em uma incubadora da Universidade de São Paulo, conquistaram clientes como a Universidade de Stanford, Harley Davidson, NBA e NBC Universal. Resultado: hoje, metade do faturamento de R$ 10 milhões da empresa vem dos Estados Unidos. Há dois anos, a Taqtile tem uma subsidiária em Seattle, onde quatro pessoas trabalham, mas toda a operação é controlada de um escritório numa sobreloja na zona sul de São Paulo, com 36 funcionários.

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MOBJOY GAMES
Quase todo o faturamento da empresa de jogos criada por  Fabio Massuda, 31 anos,
Lucas Machado, 31, Mateus Ximenes, 26, e Pedro Almeida, 26, vem  do Exterior.
A distribuição é toda digital. “Para nós, estar no Brasil  é uma opção”, diz Massuda
Site:
www.mobjoygames.com

Na MobJoy Games, o mercado estrangeiro é ainda mais relevante, respondendo por 95% do faturamento. Sediada em Campinas, no interior de São Paulo, a empresa cria jogos – que, na verdade, são boas ideias capazes de divertir jovens do mundo inteiro – e os distribui por meio das plataformas para celular da Apple e do Google. Seus clientes preferenciais são americanos e europeus. “Os consumidores não se perguntam de onde vem o jogo se tiver qualidade”, afirma Fabio Massuda, CEO da MobJoy. Organizador e professor do laboratório de start-ups do Centro de Inovação e Criatividade da ESPM, Marcelo Pimenta diz que, na indústria digital, em que o produto não é físico, redes de distribuição como a App Store perderão no futuro os papéis de intermediárias. “O canal entre o produtor e o consumidor cada vez mais independe de mediadores”, afirma. “A internacionalização dessa nova indústria vai resultar do fim das fronteiras tradicionais.”

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NAMORO FAKE 
Com apenas quatro  meses de existência e seis funcionários, os sócios Flavio Estevam, 32 anos,
e Kenneth Corrêa, 30, ingressaram no mercado americano com  uma ideia inusitada: um site
que contrata pessoas para simular um relacionamento amoroso no Facebook.
Site: www.namorofake.com.br

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Criado em Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, o Namoro Fake, site que propõe contratar alguém para simular um relacionamento no Facebook, quer seguir o mesmo caminho. Avaliando os candidatos a namorados falsos e clientes dispostos a contratá-los, Flavio Estevam, sócio-fundador da empresa, percebeu um número cada vez mais significativo de americanos se cadastrando no site brasileiro. No modelo de negócios criado por ele, os perfis são reais, mas o namoro é só para impressionar os amigos. Os planos, de R$ 10 a R$ 120 incluem número de comentários e mudança de status na rede social. O sucesso foi praticamente instantâneo e, em quatro meses, mais de dez mil pessoas já contrataram os serviços do site – alguns mais de uma vez. “Para o papel de namorado remunerado, qualquer pessoa pode se candidatar, mas tem que passar por uma triagem”, diz. Por uma questão de “credibilidade” dos interessados, Estevam desenvolveu uma versão para o mercado americano, lançada na semana passada, e trabalha para estar em seis países até o fim do ano. A estreia na China deve acontecer em breve, com um parceiro e um escritório locais. Como lá o Facebook é bloqueado, o Namoro Fake vai funcionar para a Renren, maior rede social chinesa, que tem 170 milhões de usuários cadastrados. A expectativa de faturamento é chegar a R$ 7 milhões nos dois primeiros anos com mais dois serviços: Amigo Fake e Fidelidade Fake. No século XXI, uma boa ideia pode realmente valer alguns milhões.

Fotos: Marco Ankosqui; Rafael Hupsel/Ag. Istoé; João Garrigo


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