Parou de piorar é o título da reportagem à pág. 80 desta edição de ISTOÉ. Nela se retrata um sentimento que começou a aflorar na última semana em relação à grave crise econômica por que passa o País. Indicadores como a reabertura, ainda lenta, das linhas de crédito necessárias para movimentar a produção; o desaquecimento do dólar, hoje no patamar de R$ 1,80 e em aparente queda gradual; e as projeções para o mês de março de um saldo positivo de US$ 300 milhões da balança comercial – ajudado, é obrigatório dizer, pela drástica diminuição das importações e nelas, além dos supérfluos, se incluem os insumos básicos também necessários para movimentar a produção – são alguns dos sinais que justificam um começo de otimismo. Nunca de euforia. Os problemas endêmicos do País, também é obrigatório dizer, permanecem intocados. As ruas e as esquinas das grandes cidades continuam a ser o local de trabalho de um número crescente de miseráveis. O medo é um sentimento familiar ao cidadão, cada vez mais vulnerável a uma absurda e impune violência urbana, como mostra a reportagem à pág. 38.

Ao sentimento de otimismo citado no início recomenda-se agregar uma generosa colherada de cautela para se obter uma mistura eficiente de combustível para atravessar crises. O presidente Fernando Henrique Cardoso não se mostrou adepto deste combustível ao declarar eufórico, nesta sexta-feira em Brasília, que "estamos combatendo a inflação e está dando certo, para decepção das cassandras".

Personagem da mitologia grega, Cassandra era uma moça por quem o deus Apolo se apaixonou. Em troca de seu amor, o deus lhe deu de presente o dom de fazer profecias. Esnobado, Apolo manteve o poder profético, mas anulou o poder de convencimento da donzela. Foi Cassandra quem disse que dentro daquele cavalo de madeira, estacionado nos portões de Tróia, havia uma tropa de guerreiros gregos. Ninguém acreditou. No seu novo livro, resenhado em à pág. 40 desta edição, o dono da Microsoft, Bill Gates, recomenda que as más notícias, em vez de serem repelidas, devem ser acolhidas para que por meio delas se possam corrigir erros cometidos.


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