Na virada do Plano Real, industriais da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) viviam esbravejando contra a abertura comercial, a invasão de produtos importados e o câmbio supervalorizado. "Eu odeio os chineses" era o slogan de um adesivo que circulava entre os empresários contra a avalanche de mercadorias asiáticas. Aquele tempo já era. Com o dólar caro, até alguns chineses decidiram pular para o outro lado da trincheira. Vão deixar de importar para fabricar seus produtos aqui. A Gree, a maior indústria chinesa de ar-condicionado, por exemplo, está prestes a montar uma fábrica em Vitória ou Londrina. Cem empregos devem ser abertos. "A importação ficou proibitiva, cerca de 30% a 50% mais cara", justifica o diretor Luiz Murro. A decisão da empresa é uma gota na série de boas notícias que estão colaborando para reduzir o desânimo que empacou o Brasil desde a desvalorização do real. No primeiro bimestre, cerca de US$ 6 bilhões em investimentos diretos entraram no País. Excluindo o dinheiro da privatização, a soma chega a US$ 1,5 bilhão. Só na primeira quinzena de março são mais US$ 650 milhões. A cotação do dólar já caiu para abaixo de R$ 2. E, no Congresso, o governo conquistou sua vitória mais importante: a Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras (CPMF) foi aprovada, encerrando a fase do ajuste fiscal.

O bombardeio de boas novas também saiu do setor privado. O grupo Itaúsa decidiu investir US$ 120 milhões em projetos no interior paulista. "A crise é passageira", justifica Paulo Setubal. A Philips, fabricante de aparelhos eletroeletrônicos, vai injetar US$ 500 milhões em mais duas fábricas e até a Volkswagen, depois de passar por uma das piores crises do setor, prevê a normalização da produção em abril. Tudo isso tem criado a sensação de que o pior já passou. Na área externa, os setores exportadores projetam bons lucros, incluindo os produtores de soja. A consultoria Tendências aposta que a balança comercial deverá ter um saldo positivo de US$ 300 milhões ainda neste mês, o melhor resultado desde julho. Além disso, a percepção de que a situação está melhorando fez com que os bancos estrangeiros renovassem suas linhas de crédito. Uns US$ 28 bilhões devem ficar por aqui. Isso fez com que o FMI anunciasse a liberação de US$ 4,6 bilhões do socorro financeiro de US$ 41,5 bilhões, a partir do dia 30, enquanto os 20 bancos centrais que participaram do acordo desembolsarão outros US$ 4 bilhões. Um certo alívio paira no ar.

 

A locomotiva do mundo
Nem Greenspan sabe até onde vai a "exuberância irracional" de Wall Street

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O presidente do Fed, o banco central americano, Alan Greenspan, alertou para os riscos da "exuberância irracional" dos investidores, quando o índice Dow Jones das 30 empresas industriais da Bolsa de Valores de Nova York estava em 7 mil pontos. Isso foi há mais de dois anos. Na terça-feira 16, o indicador ultrapassou, por breves minutos, a marca histórica de 10 mil pontos. Ele reflete o comportamento das ações das empresas americanas mais conhecidas, como IBM, Coca-Cola, American Express e General Motors, e é uma amostra da vitalidade da economia dos Estados Unidos. A escalada da valorização das ações parece não ter fim. Vários analistas já previram nos últimos anos o estouro da bolha especulativa e nenhum deles acertou. Na história americana, os resultados dos ciclos de valorização das ações são conhecidos, como o de 1929 que precipitou a Depressão dos anos 30. O último foi o crash de 1987. Mas, nos últimos cinco anos, o índice Dow Jones vem subindo numa trajetória impressionante. Uma das explicações é o fato de os Estados Unidos estarem apresentando uma capacidade de crescimento nunca vista na história econômica, o que inclui um alto retorno obtido pelas empresas americanas instaladas pelo mundo. Os Estados Unidos crescem há oito anos, a taxa de desemprego é a mais baixa em três décadas e as contas públicas estão ajustadas. A revolução da informática também é apontada como responsável pela excelente performance. Mas uma questão fica no ar: até quando vai o fôlego? Nem Greenspan sabe.


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