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MERGULHO URBANO
A aposta do designer Maurizzio Mancioli para esvaziar a
mente é se isolar debaixo d’água, mesmo em São Paulo.

Uma nova e sofisticada geração de equipamentos está mudando definitivamente a forma de domar o estresse. Se até hoje o problema era combatido basicamente com mudanças no estilo de vida e na forma de ver os problemas, agora passa a ser enfrentado por um arsenal de aparelhos que ajudam a treinar o cérebro para evitar as crises e a recuperar o equilíbrio.

Cada um a seu modo, esses equipamentos registram as transformações induzidas pelo estresse no corpo, como o aumento das frequências cardíacas e respiratória, a alteração das ondas cerebrais e a elevação da pressão arterial. Depois, as novas tecnologias ajudam o usuário a entender o que cada sintoma representa e a sair do estado de alerta, devolvendo a tranquilidade à mente. O princípio é que, ao ficar frente a frente com as alterações, a pessoa desenvolva estratégias para reduzi-las, restabelecendo o equilíbrio.

É a primeira vez que o problema é abordado dessa maneira. “Esses equipamentos estão saindo dos centros de pesquisa para trazer uma nova dimensão ao tratamento e à identificação do problema”, afirma o biomédico Billy Nascimento, doutor em neurofisiologia pelo Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Antes deles, as emoções eram manifestadas verbalmente pelo paciente nos consultórios.

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Um dos melhores exemplos desses novos recursos são os aparelhos de bio-feedback e neurofeedback. O primeiro registra os sinais do corpo por meio de sensores colocados nos dedos, na cabeça e nas orelhas. O segundo capta e faz a análise das ondas cerebrais. “Obtemos um mapa de como o cérebro está funcionando em relação a sua eletricidade”, explica a neuropsicóloga Cinara Ferreira Soares, presidente da Associação Gaúcha de Neurofeedback. Para que isso possa ser feito, sensores são colocados em cinco pontos da cabeça.
Depois de conhecer o funcionamento cerebral, a próxima fase desse mapeamento é promover um condicionamento mental para normalizar o padrão das ondas elétricas modificadas devido ao estresse. Esse treino pode ser feito por meio de estratégias como jogos virtuais, mas, em vez de ter um controle remoto na mão, o indivíduo joga utilizando a sua frequência cerebral. Um desses jogos consiste em acender uma lâmpada no interior de uma cabeça humana visualizada na tela de um computador. Só dá certo quando o indivíduo atinge a frequência adequada. “Essa interatividade aumenta a capacidade de controlar conscientemente a própria fisiologia”, diz a psicóloga Frinéa Brandão, especialista em terapias breves, do Rio de Janeiro. A pesquisadora carioca Lívia Antunes Prado, 34 anos, submeteu-se a esse método. “Hoje, quando percebo que estou estressada, aplico as técnicas aprendidas no treinamento e consigo relaxar”, conta. Em geral, esse treino dura 30 sessões.

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A tecnologia dos aplicativos também conquista espaço na guerra ao estresse. No Calming Technology Laboratory, na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, um dos protótipos desenvolvidos faz o celular disparar alertas quando o indivíduo está estressado. Para isso, o usuário mantém um sensor no cinto que registra os seus batimentos cardíacos. Se o estresse é constatado, o aplicativo sugere exercícios respiratórios para eliminar a tensão. O Breathwear, como é chamado, partiu da experiência do próprio pesquisador. “Faço ioga e sei que exercícios respiratórios ajudam a acalmar. Era a minha arma para aliviar o estresse e quis deixar isso disponível para mais pessoas”, disse à ISTOÉ Neema Moraveji, diretor do laboratório. Para iPhones, já existe o SweetBeat, que deve ser associado a um frequencímetro (medidor de variações dos batimentos cardíacos). O aplicativo também sugere meios de se controlar durante os picos de nervosismo.

Em São Paulo, o designer Maurizzio Mancioli desenvolveu o curioso acquabox, uma cabine transparente que permite um mergulho em ambiente urbano. “Dentro dele, a pessoa usufrui da sensação de isolamento, presta atenção na respiração e se beneficia do bem-estar proporcionado pela imersão na água. A mente se esvazia e você não precisa fazer nenhum esforço embaixo d’água”, garante o inventor. Ele reconhece, no entanto, que a eficácia do aparelho não tem qualquer comprovação científica. Ainda assim, a cabine estará disponível no Hara Spa, em São Paulo.

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É consenso entre os especialistas que a tecnologia, sozinha, não cura o estresse. “Porém, o autoconhecimento proporcionado pelas máquinas é fundamental”, diz a psicóloga Ana Rossi, presidente da Sessão Brasileira da International Stress Management Association – Isma-BR. “Antes, não se acreditava que a própria pessoa pudesse monitorar suas reações fisiológicas. Agora sabemos que podemos fazer isso e treinar para controlá-las”, diz ela.

Fotos: divulgação; Masao Goto Filho/ag. istoé


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