Dos tapetes vermelhos das premiações cinematográficas aos crachás que dão acesso preferencial aos grandes concertos musicais, a cultura está sitiada por áreas vips. Recentemente, o tumulto causado pela entrada exclusiva em um disputado lançamento de livro, em badalada feira de arte contemporânea, foi o estopim para Ivana Vollaro criar o projeto “Sala Vip”, que ganhou inicialmente a forma de instalação no Anexo da Galeria Laura Marsiaj, no Rio.

A instalação consiste na elaboração de sucessivos espaços exclusivos, com diferentes graus de privilégio. Para ter acesso ao trabalho, o visitante antes tem de conferir se seu nome está na lista e a que cor de pulseira vip tem direito: azul, laranja, prata ou dourada. “No Rio, as pessoas querem ter pulseirinha dourada e gostam de sair nas colunas”, disse Ivana para Gente Boa, do jornal “O Globo”, de 14 de abril, dividindo a cena com Walter Salles, habitué dessas notas.

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Objetos de "Sala Vip" apontam para absurdos de sociedade exclusivista

Ao chegar ao espaço, o visitante terá uma experiência já conhecida, mas não exatamente frequente: sentir-se particular, único, especial. Mas a questão que se coloca aqui é: privilegiado em relação a que e a quem? Os poucos elementos que constituem o espaço instalativo – duas fotografias, um carimbo com o texto “to vip or not to vip” e correntes criando vários estágios vips – exprimem o vazio decorrente desse tipo de segregação. O que está em jogo aqui, segundo a artista argentina, são os “espaços autodenominados exclusivos dentro de uma sociedade estratificada que criam códigos determinados e comportamentos subentendidos”.

Com esse trabalho, Ivana Vollaro não apenas ironiza um comportamento social exclusivista que é raramente questionado como se refere também aos mecanismos de legitimação artística, sejam eles concedidos pelas instituições, pelo mercado, pela mídia, pela crítica ou pelo público, mostrando como são sempre apoiados em códigos abstratos e até absurdos. Na abertura da exposição, em 15 de abril, os convidados tinham direito a saquinhos de “pipoca vip”.