Imagine o que aconteceria se o secretário particular de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, negasse o Holocausto.
Ou se o chefe de gabinete de Barack Obama dissesse que o 11 de Setembro não passou de uma conspiração norte-americana. Em qualquer uma das hipóteses, seriam demitidos sumariamente.

Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin nomeou um jovem secretário particular, Ricardo Salles, que foi fundador de um movimento chamado Endireita Brasil. Questionado sobre o golpe militar de 1964, Salles condenou a Comissão da Verdade e disse que os militares não deveriam ser punidos pelos crimes da ditadura, “se é que esses crimes existiram”. Disse ainda que o Brasil deveria agradecer por ter tido uma “ditadura de direita”.

Naturalmente, as declarações de Salles provocaram indignação em todas as pessoas de bom-senso. O escritor Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-deputado Rubens Paiva, que foi sequestrado e assassinado pela ditadura, exigiu um pedido de desculpas formal do governo paulista. E mesmo tucanos, como Aloysio Nunes Ferreira e Alberto Goldman, condenaram publicamente o desrespeito do assessor de Alckmin diante de fatos históricos incontestáveis.

Indagado a respeito, Alckmin se calou. Disse que não comentaria uma opinião pessoal de um assessor. Ocorre que o reacionário Ricardo Salles não manifestou uma posição apenas pessoal, sobre se prefere o verde ou o azul, a chuva ou o sol. Manifestou uma posição política, que agride e ofende vítimas da ditadura. Mais: dada a sua posição próxima ao governador, sua opinião contamina o Palácio dos Bandeirantes como um todo, jogando por terra iniciativas recentes do governo Alckmin, como a abertura dos arquivos do Dops, órgão da repressão política, ao público.

Alckmin terá, em 2014, a mais dura eleição que o PSDB já enfrentou em São Paulo, depois de um ciclo de 20 anos no poder. Além do desgaste de material, já apontado por lideranças como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o PT ganhou musculatura nas eleições municipais e nunca esteve tão otimista em relação ao Estado mais próspero do País como agora.

Diante desse cenário, Alckmin ampliaria suas chances se, além da imagem de bom moço, investisse mais em políticas sociais, como fez, por exemplo, ao adotar uma política de cotas nas universidades paulistas. O “endireitamento”, no entanto, tornará ainda mais estreito seu potencial de votos. Portanto, se Alckmin não for capaz de demitir Salles por convicção, deveria fazê-lo por pragmatismo político.

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