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O comportamento lunático do líder da Coreia do Norte elevou o clima de tensão no leste da Ásia e se transformou numa verdadeira preocupação mundial. Na última semana, valendo-se de um arsenal atômico e de uma posição geopolítica estratégica, Kim Jong-un pôs o mundo em alerta com incisivas ameaças de ataques nucleares a alvos americanos. “Informamos à Casa Branca e ao Pentágono que a hostilidade crescente dos Estados Unidos (EUA) para com a Coreia do Norte será esmagada pela força de vontade dos soldados e do povo e (…) por meio de ataques nucleares leves, diversificados e de ponta”, disse em nota. O herdeiro da dinastia comunista de Pyongyang, de apenas 30 anos, já havia feito outros movimentos na escalada bélica promovida em resposta aos exercícios conjuntos dos EUA e da Coreia do Sul em suas fronteiras e às sanções aplicadas ao país em fevereiro, pela ONU. Anunciou a reativação de instalações nucleares para produzir armamentos, incluindo o reator de Yongbyon, desativado em 2007, e fechou o acesso dos sul-coreanos ao complexo industrial binacional de Kaesong, única ligação ativa entre os dois países. O ditador também já havia testado projéteis de curto alcance no Mar do Japão e cancelou o armistício com a Coreia do Sul, assinado em 1953, declarando-se “em estado de guerra” com a vizinha. À primeira vista, pareciam bravatas, ao estilo da diplomacia beligerante norte-coreana. Da mesma forma agiam seus antepassados, para marcar posição ou barganhar ajuda internacional. Agora, porém, a ousadia insana de Pyongyang passou a ser classificada como um “perigo claro e real” pelo secretário americano de Defesa, Chuck Hagel. Não por acaso, em resposta, o Pentágono mandou instalar em Guam, ilha americana no Pacífico, um sistema de defesa – que inclui radares, mísseis interceptadores e um caminhão lança-mísseis – a fim de garantir a segurança dos cidadãos do seu País e de aliados.

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Para analistas especializados no que ocorre por trás da cortina de ferro da Coreia do Norte, certos movimentos de Kim Jong-un pouco se diferenciam de seu pai ou avô que o antecedem, desde 1948, no comando do país. Em quase uma tradição, os ditadores do clã desafiam os limites da racionalidade e promovem ameaças e demonstrações de aparato militar sempre que há a substituição de chefes de Estado em nações vizinhas. Foi o que ocorreu no dia 25 de fevereiro com a posse pelas urnas da conservadora Park Geun-hye, filha do ditador Park Chung-hee, ao comando da arquirrival Coreia do Sul. O jovem líder também repete o roteiro familiar ao colocar as forças armadas como principal pilar de sustentação e usar a ameaça do inimigo externo para resgatar apoio popular. Por isso, é impossível prever se a Coreia do Norte quer de fato partir para um conflito suicida com os EUA.

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Há pouco mais de um ano no cargo, e questionado internamente pela pouca idade e falta de experiência, Kim Jong-un parece elevar as ameaças para se cacifar dentro e fora da Coreia. Recentemente, rejeitou as ajudas oferecidas por outras nações para suspender as movimentações bélicas – aceitas sem pudor pelos outros mandatários. O movimento dá menos margem de negociação à comunidade internacional com o regime de Pyongyang, porém, lhe torna mais errático e imprevisível. Um capital valioso na estratégia do medo norte-coreana.

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INSANIDADE
Ao elevar o tom, Kim Jong-un coloca o mundo em alerta

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Fotos: YONHAP, JUNG YEON-JE, KCNA VIA KNS – AFP PHOTO