Não há como não parar para fazer um balanço interno diante da pergunta estampada na capa desta edição. Inevitável também que a primeira análise a ser feita seja a dos motivos para respondê-la negativamente. O País passa por uma crise de repercussões globais, para usar uma palavra cada vez mais recorrente, e é difícil afastar uma certa tendência ao pessimismo em momentos agudos como este. Como se orgulhar de um País onde São Paulo, o seu Estado mais rico, apresenta o impressionante número de 230 pessoas assassinadas em apenas quatro dias, conforme a reportagem da pág. 30 desta edição, assinada pela repórter Luísa Alcalde e pelo editor especial Mário Simas Filho? Também não é motivo de orgulho o crescente contingente de brasileiros morando nas ruas e vivendo, na melhor das hipóteses, de biscates nos cruzamentos das cidades.

O editor Wladimir Gramacho nos conta à pág. 22 que o Banco Central torrou R$ 8 bi para controlar o câmbio. Saber que depois disso o dólar ainda continua no estratosférico patamar dos R$ 1,90 também não nos traz sentimentos ufanistas. Sentir que a engatinhante sensação de cidadania proporcionada pela estabilidade do Plano Real corre riscos com a ameaça da volta da inflação, mais do que ajudar a responder negativamente à pergunta da capa, traz um amargo sentimento de decepção com os gerentes do País.

Enquanto isso nos preparamos para torcer pelo filme Central do Brasil e entre essas notícias balança a nossa auto-estima, como nos mostra a editora Marta Góes à pág. 80. Não podemos nos entregar ao simplismo de achar que vivemos no pior dos mundos porque o Real desandou, assim como, num passe de mágica, não seremos os melhores se a admirável Fernanda Montenegro ganhar o Oscar. Bom exemplo de caminho a seguir talvez esteja no trabalho de dois músicos, um pagodeiro e um rapper. Como nos revela o subeditor Gilberto Nascimento à pág. 38, Netinho e Mano Brown despendem trabalho e dinheiro para minimizar a penúria da periferia onde foram criados.